Stuck in the Middle!
Coisas e Coisas

Stuck in the Middle!





"I sit and think about the day that you’re gonna die,
‘Cos your wrinkled eyes betrayed the joy with which you smiled."
(Stuck in the middle - Mika)



É engraçado como, às vezes, a vida se recusa a ser melodramática e é apenas irônica. Eu tenho certeza de que, se eu tivesse esse poder, não seria esta a música que eu escolheria para aquele momento. Mas, agora, olhando com essa distância, eu tenho a nítida impressão de que essa é a trilha sonora perfeita. Na pressão do momento, ou talvez por ver filmes americanos demais, eu teria escolhido alguma ópera tristíssima. Ou talvez, para ter certo ar rebelde, um rock pesado. Ou ainda, uma das muitas músicas melancólicas que me são tão queridas. Eu não escolheria esse pianinho juvenil. Ou esses vocais tão anos 80! Na verdade, se pudesse, eu escolheria não estar alí, parado no meio. Estancado. Furado.

Tudo começou... ou seria melhor usar "terminou"?

Bom... tudo aconteceu no ônibus.

Quando abri os olhos vi as pessoas olhando pra mim. Estava prestes a fechar os olhos e voltar a dormir quando decidi me certificar de que não estava babando. Certas pessoas são descaradas. Encaram a gente por causa de um pequeno ressonar. Ou talvez, por uma boca aberta durante o sono. Olhei para a moça ao lado pare ver se a estava apertando. Não havia moça ao lado. Não havia ninguém ao lado. Menos mal. Me arrumei calmamente. As benditas pessoas continuavam me encarando. Gente sem educação, pensei. Eu não fico encarando ninguém dentro de um ônibus. Já acho extremamente desagradável ter que dividir um espaço tão pequeno com gente que eu mal conheço. Tento fazer com que a convivência seja a mais agradável possível. No máximo um "com licença" quando vou sentar e um "obrigado" quando alguém abre um espaço ou se oferece para segurar os livros. Às vezes dá vontade de soltar um "porra" quando algum idiota passa tentando levar teu braço junto. Ou talvez um "cuidado" quando vê alguém praticamente com a mão inteira dentro da bolsa alheia. Mesmo assim, tento não me envolver. No máximo faço um "unhum", como se estivesse limpando a garganta, para chamar a atenção do sujeito. Não acredito em encontrar a "alma gêmea" dentro da lotação!

De qualquer forma, o pianinho juvenil continuava tocando. Os vocais anos 80 soavam, animadíssimos. Os anos 80 devem ter sido ótimos. E as pessoas continuavam me encarando. Tive vontade de soltar um "que é, caralho?"! Meu dia não havia sido dos melhores. Nada grave, mas também nada feliz. Ao olhar à minha esquerda vejo uma senhora meio gordinha com a mão na boca. Tenho a impressão de que, além de me encarar, ela chora. Uma única lágrima escorre de seus olhos. Me compadeço dela, mas não entendo o motivo. Imagino que ele deva estar passando por uma mau momento. Quase tenho o impulso de ir em sua direção. Melhor não, penso. Não tenho vocação para psicólogo. Sempre falo a coisa errada na hora errada. Melhor não, com certeza!

Aí, escuto o refrão.

"Oh, oh, oh – Is there anybody home? Who’ll believe me, won’t deceive me, who’ll try to teach me? Ah, ah, ah – Is there anybody home? Who wants to have me, just to love me? Stuck in the middle."

É engraçado, né? A vida, às vezes, se recusa a ser melodramática! É apenas irônica.

Decido ignorar os olhares e decido dar as costas para aquele povo, definitivamente, mal educado. Quando me viro pra direita, eu vejo. A cidade já escurecendo. As luzes dos carros, dos outdoors, dos semáforos. Tudo vibra. Tem a vibração da música. Uma perfeita trilha sonora. E, no reflexo da janela, eu vejo um homem atrás de mim. Ele parece gritar algo que eu não posso ouvir por causa do I-Pod. Ele tem o braço esticado em minha direção. E na mão, um revólver. Ele parece nervoso. Quando eu percebo, ele já puxou o gatilho. Eu tenho vontade de rir. Eu vejo, como no cinema, a bala sair do cano da arma. Eu vejo a bala se aproximar da minha tatuagem na nuca. Quem diria que haveria tanta lucidez nessa hora...

O corpo vai ao chão com o impacto. As pessoas, com a cena, viram o rosto. Não me encaram mais. A senhora gordinha é a única que continua olhando. Ela vira pro rapaz com a arma na mão e diz algo que eu não consigo ouvir. Suas mãos, agora, estão na cabeça. O sangue é quente. Escorre pelo pescoço. Me aquece. Aos poucos as imagens vão perdendo a definição. O rapaz corre. Tenho a sensação de que ele não queria ter atirado em mim. Era pra ser um assalto tranquilo. A senhora vem em minha direção. Senta ao meu lado... ou seria melhor usar "ao lado do meu corpo"? Bom, senta-se próximo. Ela diz alguma coisa. Eu não consigo entender. Um pouco, porque tudo já está ficando muito distante. Um pouco, porque a única coisa que eu consigo ouvir é essa música. Minha derradeira trilha sonora.




"Who wants to have,
just to love me?
Stuck in the middle,
stuck in the middle,
stuck in the middle."





Irônico, não?
Eu nem gostava dessa música tanto assim!




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De pé, perto da janela, fumando o último cigarro, eu te vejo. Deitado na cama. O corpo meio de lado, meio largado. A respiração lenta, quase imperceptível. O olhos, mesmo fechados, se movem lentamente. Você sonha. Ou talvez habite uma outra dimensão....

- Bad Days...
- Porra de dor de cabeça! Tento abrir os olhos novamente. E quanto mais eu tento, mais minha cabeça dói. O trabalho acumula. Em pilhas. O corpo ressente-se. O humor ressente-se mais. Tento começar a me mover e a dor parece ir se alastrando pelo corpo....

- Flashes
Trilha sonora para este post: Miss your Love Maria Mena As luzes entravam pela janela do veículo em movimento. Eram como flashes que inundavam o espaço de tempos em tempos. Nunca o suficiente para que pudéssemos perceber claramente o que ocorria...

- A Primeira Vez...
- Sou obrigado a confessar que estava um pouco nervoso. Ora, a gente vê essas coisas na TV, pega filmes e presta bastante atenção quando ouve falar do assunto... mas, na primeira vez a gente hesita. Na teoria tudo é muito simples... a prática...

- Asas!
Sempre tive uma certa admiração por asas!!! Não sei dizer exatamente onde isso começou, e provavelmente, também não sei onde irá terminar ... mas, por exemplo, numa imagem de um anjo, a coisa que mais me fascina são as asas. Talvez o sentimento...



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