Bad days...
Coisas e Coisas

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- Porra de dor de cabeça!

Tento abrir os olhos novamente. E quanto mais eu tento, mais minha cabeça dói. O trabalho acumula. Em pilhas. O corpo ressente-se. O humor ressente-se mais. Tento começar a me mover e a dor parece ir se alastrando pelo corpo. As costas doem. A coluna incomoda. os ombros tensos.

Será que tudo que eu tenho que fazer resolveu se transformar em dor? Será que tudo o que eu já fiz se transformou em dor? O que é pior? O que resta? O que ficou? O que é pior?

- Porra de dor de cabeça!

Levanto e vou até a janela. Tentar fazer com que meu quarto retorne a ser a minha caverna. Fechar (se).

- Porra de dor de cabeça!

E volto a deitar. E volto a tentar abrir os olhos. E volto a reclamar. E me fecho (mais). E tensiono (mais).

Ao fundo, o ruido dos carros me incomoda. O latido do cão do vizinho. O cão do vizinho. As crianças passando para ir à escola. Pelo menos a escola fica longe, imagino.

- Porra de dor de cabeça!

O travesseiro sobre os olhos. Escolher entre o sufocar (se) e a luz. O braço pendendo para fora da cama. Os dedos tocam impacientes o piso. O punho começa a fechar (se). Algo dentro de mim vai crescendo e ficando mais forte que a dor.

Uma ânsia. Uma força. Um desejo.

Não digo mais "Porra de dor de cabeça"! Bato com o punho fechado sobre o piso. Em cada momento que tenho vontade de falar, bato. E quanto mais quero gritar, mais força uso.

E quando as primeiras gotas de sangue começam a sair pela pele dos dedos, sinto uma dor maior que a da minha cabeça. É reconfortante. Por um breve momento consigo esquecer da porra da dor de cabeça.

Por um breve momento consigo esquecer de tudo o que tenho que fazer.
Por um breve momento consigo esquecer de tudo o que já fiz.
Por um breve momento consigo esquecer ...

Então bato com o punho no piso... com mais força.

Então sai mais sangue da mão.

Então fico mais aliviado.

E os ossos começam a aparecer por entre a pele. E a dor vai se tornando mais aguda. E a dor vai se tornando cada vez mais reconfortante. E os ossos começam a rachar e soltar pedaços. E eu não paro. Esmurro o piso com cada vez mais força. Quebro o punho. Perco sangue. Minha visão turva (se). Todas as minhas forças estão trabalhando para um único objetivo. Esmurrar o piso. Bater com o punho no piso. Me livrar da dor de cabeça.



Desmaio.




Enfim.





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