Coisas e Coisas
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Na poltrona do avião, numa ponte aérea, esmagado entre dois homens de terno e gravata, seguia minha viagem para uma pauta do jornal. O sujeito da direita, de cabelos grisalhos, bem barbeado e ar imponente, carregava um jornal nas mãos, o da empresa onde eu trabalhava. Tinha cara de alto executivo. “Homens de terno e gravata parecem ser mais importantes, mesmo que, no fundo, sejam uns bostas”, dizia meu avô. No meio deles, estava eu, de camiseta, calça jeans, tênis e cara de sono.
O homem da direita começou a folhear o jornal. Depois de alguns minutos, pegou o caderno para qual eu escrevia e passou a ler minha matéria, que estampava a capa daquela edição. Fiquei ansioso. Nunca tinha estado tão próximo de um leitor que não me conhecia. Iria gostar? Leria até o fim? Parecia atento, interessado. Mas logo desviou o olhar, para conferir o rebolar de uma comissária de bordo que desfilava pelo corredor. Se soubesse o quanto eu tinha ralado, não teria feito tal desfeita com meu texto.
Pensei em abordá-lo. E se eu falasse que o Duda Rangel do papel era eu? Acreditaria num cara tão mal vestido? Acharia engraçada a coincidência? Seria indiferente? Em TV, os rostos ficam famosos; em impresso, somos meras assinaturas.
– Esses vereadores fazem um monte de sacanagem e depois usam a imprensa para limpar a barra com a opinião pública,
comentou o homem, girando levemente o corpo em minha direção.
– O senhor falou comigo?,
perguntei.
– Foi só um desabafo. Não entendo essa imprensa que engole qualquer asneira de um entrevistado.
É certo que, às vezes, engolimos mesmo algumas idiotices, mas alguns executivos engravatados não têm a mínima idéia do que é o trabalho de um jornalista, as dificuldades da apuração, a obrigação de ouvir os dois lados da história. O homem, então, virou a página do jornal e me esqueceu. Meu consolo foi o sorriso da comissária, que voltava pelo corredor, com deliciosas Maxi Goiabinhas nas mãos.
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