Coisas e Coisas
Vestiram o Ditão!
Dizem que o futebol moderno está mais feio, burocrático. Perdeu a arte e a magia do passado. O jornalismo esportivo também. Pelo menos a cobertura feita nos vestiários, após os jogos. Em meus tempos de repórter de futebol – quando o Ronaldo ainda era magrinho –, o acesso aos vestiários era livre. Entrava todo mundo. Jornalista, maria-chuteira, filho de conselheiro. A imprensa convivia em harmonia com os jogadores, peladões, na saída do chuveiro. Podíamos conversar com qualquer um deles, a qualquer hora.
Era possível, no meio de todos aqueles homens sem roupa, encontrar um furo (de reportagem). A gente tinha o direito de ir e vir. Ver os peladões era também motivo de brincadeiras na redação. Ficou reparando no do Tonhão, hein? Fulano disse que o do Pedrinho não é tudo isso. Eu sempre adotei a postura profissional de olhar meus entrevistados nos olhos. Mas confesso que, certo dia, fiquei interessado em saber se a fama do zagueiro Ditão era verdadeira ou lenda de vestiário. Jornalista é um bicho curioso mesmo.
Em determinado momento de nossa conversa, baixei meu olhar para o bloquinho de anotações e, depois, o desviei para a direita. Em poucos segundos, fui invadido por um imenso sentimento de inferioridade. Uma mistura de espanto e inveja. A fama era justa. Nessas horas agradeço a Deus por ter nascido jornalista e não jogador de futebol. Nunca gostei de tomar banho em público. Naquela tarde, Ditão foi o destaque de minha matéria, mas pelo que fez em campo.
Hoje, porém, a realidade é outra. As portas dos vestiários se fecharam. Vivemos a fase da coletiva de imprensa. Mais formal, aquele clima europeu. Atletas sentados, na frente dos banners dos patrocinadores. A assessoria do clube escolhe quem vai falar. E ponto final. É claro que sou a favor da organização e profissionalização do futebol, mas os jornalistas perderam a sua liberdade. Os diários esportivos de segunda-feira estão todos iguais. Os mesmos personagens, as mesmas declarações. Prefiro ler o horóscopo do dia.
Mas um velho colega de redação, que também já desviou seu olhar para baixo, me fez um alerta. Na era do celular com câmera fotográfica e da internet colaborativa, o que seria da privacidade dos atletas? Imaginem se as fotos dos novos Ditões vão parar em um blog de fofocas! Pensando bem, talvez seja melhor esquecer os peladões e acompanhar numa boa as coletivas do Luxemburgo. De terno e gravata.
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