Nathasha 2.0
Coisas e Coisas

Nathasha 2.0




Entrou no quarto e sentou na cama. Estava cansada. O dia não tinha sido dos melhores. Ultimamente, muitos dias disputavam o posto de não ter sido dos melhores. Mas, de qualquer forma, precisava trabalhar. Tinha um site na internet. Todos os dias, no mesmo horário, chegava em casa, ligava a cam e se masturbava para os "clientes". O pagamento era feito através de depósito bancário, previamente realizado. Algumas vezes, o trabalho envolvia mais de uma pessoa. Sessões especiais. Nunca mais do que três pessoas no mesmo quarto. Nunca encontrou quem bancasse uma festa.

Ultimamente seu trabalho andava também meio parado. Depois de 08 anos fazendo o mesmo show já tinha se mostrado para praticamente todos os usuários disponíveis. Sem contar que sempre tinha um desgraçado que gravava sua performance e a distribuia gratuitamente pela internet. Detestava pirataria. Detestava pornografia. Detestava quando os clientes também abriam a cam. Preferia masturbar-se sozinha. Com seus pensamentos.

Naquele dia felizmente, ou infelizmente, tinha somente dois clientes. Nenhum dos dois tinha pago um programa completo. Era somente entrar, tirar a roupa por uns poucos minutos, fazer algumas caras e bocas, fingir um orgasmo ruidoso e seguir adiante. Simples. Já estava habituada com o trabalho.



Ligou uma música. Ligou o computador. Abriu o programa que usava para se comunicar com os clientes. Abriu a cam. Esperou por alguns momentos para que o relógio marcasse a hora combinada. Esperou profundamente que os clientes não aparecessem. Não ficassem online. O dia não estava sendo dos melhores. Poderia passar muito bem sem ter que trabalhar nessa noite. Não fosse pelo dinheiro, ficaria bastante tempo longe daquele quarto.

Logo, um dos clientes entrou na web. Natasha... Obviamente esse não era seu nome real... Natasha começou seu show habitual. O cliente dizia, em textos praticamente impublicáveis, o que queria que ela fizesse. E ela fazia, quase que mecanicamente, seu trabalho. Suas mãos. Exploravam partes do corpo. O interior das coxas. Os quadris. Os seios. Tudo.



Os clientes pareciam se tornar cada vez mais exigentes. Ou talvez fosse ela que não já era boa o bastante para o trabalho. Quando havia começado, há oito anos, já não era uma adolescente. Hoje, então, se sentia velha e feia, embora não fosse. As frases escritas pelos clientes também já não eram as mesmas. Se antigamente eles se satisfaziam observando a sua nudez, hoje eles pareciam querer sempre mais. Mais fetiches. Mais fantasias. Mais objetos. Sempre mais.

Mas aquele dia não estava sendo dos melhores. Ela não se sentia à vontade. Isso não quer dizer que ela não fizesse tudo o que lhe pediam. Fazia. Tentava demonstrar prazer. O prazer que algum dia talvez até tenha conseguido sentir. Hoje, nem fingir ela conseguia mais. Hoje, o máximo que ela conseguia era tentar sorrir. Tentar.

Tentou. E falhou. No meio de seu trabalho insuportável ela não conseguiu conter o choro. Lágrimas rolaram pelo rosto. A princípio ela tentou disfarçar. Virar o rosto e mostrar outras partes do corpo para que os clientes não percebessem. Tentou secar as lágrimas esfregando o rosto no lençol da cama. Tentou controlar-se. Tentou ser forte. Tentou conter-se. Tentou.

Quando parou o show e foi teclar com os clientes para oferecer um outro horário para eles, percebeu que um deles já não estava mais online. Tentou começar a explicar que não estava sentindo-se bem e que prometia repor o horário, desde que não pedisse seu dinheiro de volta. Surpreendeu-se.

- Me deixa ver você chorar? Me deixa? Eu pago o dobro, se me deixar vê-la chorar enquanto se masturba. É sério! O triplo.

Ela deixou. E fez tudo o que ele pediu, enquanto chorava. Não foram algumas poucas lágrimas. Na verdade foi quase que uma catarse. E, pela primeira vez depois de muito tempo, ela não precisou fingir o orgasmo.

Logo a notícia correu pela web. Na semana seguinte ela atendeu 15 clientes. Destes, 12 queriam vê-la chorar. Na posterior foram 48. Depois, 137. Logo precisou trocar de provedor para dar conta da demanda. Foi obrigada a criar a versão "2.0" de seu site. Mais moderna. Mais de acordo com as novas tendências. Interagia com seus clientes. Tornou-se uma nova sub-celebridade. Logo, logo iremos encontrá-la no twitter, interagindo com seus seguidores.




loading...

- Uma Brincadeira
Eles disseram que a brincadeira era mais ou menos assim: faziam um pacote que teria o tamanho de uma criança recém nascida. Daí embrulhavam esse pacote com diferentes tipos de papel. Por último colocavam em um plástico, como esses sacos de lixo....

- A Primeira Vez...
- Sou obrigado a confessar que estava um pouco nervoso. Ora, a gente vê essas coisas na TV, pega filmes e presta bastante atenção quando ouve falar do assunto... mas, na primeira vez a gente hesita. Na teoria tudo é muito simples... a prática...

- A Muher Boa...
Ela era uma mulher linda. Tinha uma certa classe. Gostava da vida e parecia feliz. Tinha um bom emprego. Ela escrevia coisas e tinha muitos amigos. Tinha filhos. Ela levava sua vida da forma que sempre quis. Ela era uma mulher realizada. Ou, pelo menos,...

- As Vezes, O Silêncio... Ou ... Um Post Muito Romântico!
Abriu os olhos. Branco. O teto não lhe dizia nada. A mobília não lhe dizia nada. O cachorro lhe fitava, porém, nada dizia. O mundo, de um momento para o outro, ficou em silêncio. Ele mesmo, tentou falar algo e quebrar com a estática. Nada....

- Fuga!
Você não poderia saber... Nunca... Quanto te amei, foi em silêncio. Foi... Você não poderia saber... Afinal... Nós nem nos conhecíamos. Nunca... Você não poderia saber... Óbvio... Quando eu vivia, tu não existias. Ainda... Você não poderia...



Coisas e Coisas








.