Você não poderia saber...
Nunca...
Quanto te amei, foi em silêncio.
Foi...
Você não poderia saber...
Afinal...
Nós nem nos conhecíamos.
Nunca...
Você não poderia saber...
Óbvio...
Quando eu vivia, tu não existias.
Ainda...
Você não poderia mesmo saber...
Infelizmente...
Foi preciso que eu deixasse de viver para que você nascesse.
Sim...
Tal e qual duas imagens no espelho...
Uma em cada lado da vida...
Como se um rompimento desta realidade fosse necessária.
Impossível...
O que havia então?
Uma intuição...
Uma miragem...
Uma imagem,
em sonho...
Quando foi que eu comecei a sonhar com você, eu não sei dizer. Mas, a cada dia, sua imagem se tornava mais clara pra mim. A cada dia sua companhia se tornava mais presente. Talvez, pela falta. Talvez, pela ausência. Talvez, ainda, pela dor que me espreitava. Quando, naquela manhã, te vi a me olhar, pelo espelho, fiquei ligeiramente chocado. O significava aquilo? Como podia ser que eu não tinha mais imagem? Como podia ser que minha imagem agora era você?
No início tudo parecia fazer sentido. Mas, aos poucos, suas idéias começaram a me causar uma certa apreensão. Suas insinuações sobre o uso de algumas substâncias proibidas, suas insinuações por algumas situações pouco recomendadas. Quando eu vi, já estava rendido. Utilizando sua imagem para me permitir agir sem pensar, afinal você já havia pensado por mim. Você me libertou!
Depois, havia dias em que você não aparecia. Mas, em algum lugar escondido em mim, eu já intuía quais seriam seus conselhos. E assim, tomava as mesmas substâncias proibidas sozinho. E outras também. Seguia, também, me enfiando em situações cada vez menos recomendadas. Utilizava suas lembranças para me permitir fazer de conta que você ainda estava comigo. Você me abandonou!
Ao fim, você desapareceu completamente. Eu olhava no espelho e só conseguia enxergar meu próprio rosto. Essa imagem insuportável e perturbadora. Um rosto sem vida, embora tão presente. Um rosto sem expressão, embora tão retorcido. Nem a minha expressão era minha. Minhas idéias não combinavam mais com minha face. Tudo o que eu queria era ter o seu rosto. Você me aprisionou!
Logo, não houve muitas alternativas. Tatuagens. Piercings. Cicatrizes. Plásticas. Mudanças externas para influenciar o que se passava lá por dentro das tripas. Nada funcionava. Aos poucos comecei a pensar em uma solução definitiva. Quando saí da terceira internação, resolvi. Em casa, quando todos dormiam entrei no espelho e expulsei você de lá. Era você que estava lá fora agora. Era você que teria que se virar com a minha vida. Eu, agora, era apenas a sua imagem.
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