Meteoros
Coisas e Coisas

Meteoros



Entrou em casa, sacudiu o casaco molhado, pendurou-o no cabide atrás da porta.
Olhou a casa ainda no escuro. Um silêncio que incomodava.
Largou a bolsa sobre o sofá. Tirou os sapatos antes de entrar no corredor.
Caminhou sentindo o tapete sob os pés.
Sentiu falta do cachorro vindo ao seu encontro.
Parou na porta do quarto. Olhou a cama e sentiu seus joelhos fraquejarem.
Ajoelhou-se. Apoiou-se no chão com a mão direita, enquanto a esquerda impedia um grito.

Corte rápido. Mudança de clima. Faz sol na rua.



As mãos de minha mãe eram feitas de porcelana. Não... veludo. Sinto ainda a pressão de suas mãos me segurando enquanto giramos. O sol batendo no seu cabelo ruivo. O seu riso solto e quase infantil. As árvores girando muito rápido e eu, gritando. Enxergo meu pai sentado no banco. Ele orbita ao nosso redor. Eu orbito ao redor de minha mãe. O mundo todo gira ao nosso redor. Só nós existimos. Só nós rimos alto. Só meu pai nos observa. Só eu observo minha mãe. Não... as mãos de veludo de minha mãe.

Giramos por horas. Até que a chuva veio.



De joelhos, o mundo não girava. O grito teimava em sair da garganta.
A mão que impedia o grito fazia com que ele ficasse engasgado.
E de grito ele se transforma em vômito.
É como dois planetas que se chocam.
Um ruído ensurdecedor na cabeça e uma sensação de inevitabilidade.

Clarão branco. Suspensão de tempo.

Em cada lado meu, um planeta. As mãos de veludo de minha mãe e as mãos de ferro do meu pai. A segurança. O salto por sobre um degrau. A sensação de voar enquanto está sendo erguido por ambos. Ausência de gravidade. Com meu telescópio, eu os observo. Lá de baixo. Movendo-se lentamente em direção ao nada. Duas trajetórias. Movendo-se em translações obtusas. E mesmo sem entender o significado daquilo, eu os observo. Em suspensão.

Meteoros.

Levantou-se do chão com dificuldade.
Caminhou até a cama vazia.
Limpou a boca como pôde.
Deitou-se e fechou os olhos.
Tentaria dormir, por horas.
Tentaria tirar da cabeça aqueles ruídos, por horas.
Tentaria colocar as coisas todas em ordem, em vão.

Corte seco. Melancólico.

Cheguei em casa e encontrei um par de luvas brancas. Luvas de veludo. Caídas ao lado do sofá gigante da sala. Com a luva na mão, comecei a girar pela sala. Rindo. Orbitava pela sala. Meu sol era um tapete amarelo. Eu tinha várias luas. Poltronas. Abajures. Mesinhas, cadeiras, relógios. E uma luva na mão. Uma luva branca, de veludo. Uma luva branca de veludo, com uma gota de sangue.



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