Coisas e Coisas
Imobilidade
Levantou da cama lentamente.
A casa no escuro. Aquele momento que, quando criança, não sabia dizer se já era madrugada do dia seguinte ou ainda a noite anterior.
Caminhou pela casa.
Esbarrou nos móveis.
Foi ao banheiro.
Olhou-se no espelho.
Lembrou-se do sonho que acabara de ter...Algo que envolvia pessoas fazendo sexo sob o efeito de drogas. Algo que envolvia uma pessoa presa em um quarto enquanto pessoas faziam sexo sob o efeito de drogas. Algo que envolvia uma arma de fogo sendo disparada contra o palato. Algo que não acabava bem...como a vida.
Olhou-se no espelho.
Aparentemente seu rosto continuava no lugar.
Olhos, nariz, testa, boca.
Duas imensas marcas marrons embaixo dos olhos.
Dois traços profundos saindo do nariz em direção ao queixo.
Um rosto cansado de tudo.
Sentou-se no vaso sanitário.
Retirou do bolso da calça um celular.
Três ligações perdidas. Uma pilha de emails para responder. Coisas e mais coisas acumuladas esperando por uma resposta. Mensagens de voz. Sms. Scraps. Mensagens públicas e privadas. Se você está numa situação de merda, não há meio de comunicação que te convença a responder.
Largou o celular dentro do vaso sanitário.
Deu a descarga, esperando que todas as mensagens fossem, literalmente, por água abaixo.
Atravessou o corredor em direção à sala.
A televisão ligada fazia um contraste brutal com seu estado de espírito. Todas as frases prontas. Todas as risadas ensaiadas. Todas as temporadas finais daqueles seriados que ninguém pode perder. Um mundo que se resume a contar histórias. Uma atrás das outras. Um mundo que se resume a contar histórias que nos entretêm durante alguns segundos. Minutos. Horas até. Um mundo que se resume a contar histórias. E descobrir quem são os assassinos de mentirinha. Histórias que nunca acabavam bem...como a vida.
Acendeu um cigarro para tentar disfarçar o mau cheiro.
Sentado no sofá, olhou para a cozinha.
O corpo continuava caído no chão.
Olhos abertos. Pareciam olhá-lo. Pacientemente.
Quem está morto, parece ter todo o tempo do mundo. Mas não é verdade. O tempo deste corpo parecia cada vez mais escasso. A carne já começava a dar sinal de que não resistiria muito tempo. Os fluídos, cada vez mais abundantes, logo atrairiam a atenção dos vizinhos. Uma poça de um líquido qualquer ameaçava chegar perto da porta de serviço e escorrer para fora do apartamento. O odor, com certeza, já havia chegado ao apartamento do lado.
Não havia mais nada a fazer.
Sob a mesa de centro da sala um revolver repousa. Pacientemente.
Durante três dia o homem esperou que a situação se resolvesse. Sozinha. Durante três dias o homem ficou imaginando formas e mais formas de dar um jeito no seriado em que havia se metido. Sozinho. Durante três dias ele esperou que as coisas acabassem bem.
Em vão.
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