Ela
Coisas e Coisas

Ela



Ela caminhava pelas ruas de Tóquio. Mas podia ser o Camboja. Ou talvez Nova Orleans. Santa Catarina ou Irlanda. Málaga. Caucutá. Ou Malásia. Sua cabeça apontando sempre pra frente. Olhos perdidos no horizonte. Vômito pronto para explodir. Pressão sanguínea. Elementos correndo pelas veias. Saltando pelos neurônios. Revesando entre as veias e as artérias. Negando todo e qualquer tipo de anatomia humana. Componentes químicos. Reações adversas. Esperadas. Ou não. Desejadas, talvez

Cada passo era um terremoto. Tóquio tremia sob seus pés. Ela tremia sobre Tóquio. Ou talvez Nova Orleans. Ou Malásia. Big in Japan, ela pensava. E talvez estivesse caminhando ali por causa disso. Pensando em seu homem e flutuando sobre Málaga. O vermelho era então espanhol. Ou sangue. Escorrendo pelo asfalto. No reflexo do sol espalhado pelo céu no fim da tarde. Ou madrugada

Nunca vou conseguir escrever um romance, ela pensou. Meus pensamentos não preenchem frases inteiras. Minha pontuação. Minha. A urgência das ruas. Do sangue. Não passam de contos. Nunca passarão de crônicas sobre dias mais ou menos interessantes. Talvez eu deva me colocar em um lugar exótico, ela pensou. Me vestir de princesa e sair caçando uma ameaça feminista. Criar uma polêmica racista. Serei negra ou islâmica. Judia. Maria Madalena. Terei filhos com Jesus. Morrerei ao seu lado, deixando a cruz para outras. Estudar os elementos químicos e criar uma aventura intra muscular. Colocar todas as ideias do mundo no papel e finalmente criar uma obra prima. Me tornar imortal. Orlando furioso

Ela caminhava pelas ruas. Mas podia ser dentro do apartamento. Ou talvez uma casa. Quarto ou sala. Cozinha. Ou banheiro. Suas ideias apontando para fora. Olhos desfocados. Pupilas dilatadas. Pressão. Força. Pulsação. Saltando pela epiderme. Ampliando sua humanidade. Abrindo suas costas e vomitando asas. Enquanto a música soava em looping. Ou na sua cabeça, talvez

Cada passo. A pele. Sobre o piso. Milhares de divisórias. Tacos. Desenhos que se formam aleatóriamente. Padrões. Tonight, big in Japan. E talves estivesse caminhando ali por causa disso. A cera vermelha antiga acumulada sobre a madeira. Sob o reflexo do sol. Espalha-se pela parede branca. Um grande reflexo vermelho sobre a parede branca. Ou tecido

Imagem sobre imagem sobre imagem sobre imagem. Nunca vou conseguir escrever um romance, ela pensou. Minha sintaxe equivocada sobre a vida. Minhas percepções distorcidas sobre tempo e espaço. Não passam de imagens. Nunca formarão uma gestalt mais ou menos compreensível sobre a vida ou sobre o mundo. Talvez eu deva me colocar em um lugar exótico, ela pensou. E tentou novamente recorrer ao Japão. Transformar o sol em um círculo vermelho e compreensível. Uma bandeira. Um signo. Um ícone. Algo para se apoiar e dizer. Eu posso. Eu entendo. Eu consigo. Eu sei. Eu. Finalmente criar uma obra prima. Imortal. Talvez

Ela caminhava. Sentada na mesa. Deitada na cama. Nadava sobre o colchão. Fabricava anjos. Mesmo sem neve. Ela. Suas ideias. Seus olhos. Sua epiderme. Suas asas. Ou sua cabeça, talvez. Cada passo. Cada pele. Cada imagem. Ela. Cada palavra. Cada tentativa. Fracassada. Things are easy when you're big in Japan. Talvez

Nunca vou escrever um romance. Ela disse. Ela

Eu



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