Alguns tipos de jornalistas “high-tech”
Coisas e Coisas

Alguns tipos de jornalistas “high-tech”


Matheus ouviu falar em jornalismo colaborativo. Depois, na queda da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. As duas coisas convergiram e ele passou a ser um “jornalista colaborador sem diploma”. Com um celular que tira fotos e faz gravações de vídeo e áudio em alta qualidade, passou a farejar flagras pelas ruas. Quando começa a chover em São Paulo, corre para os pontos mais críticos de enchente na esperança de registrar algum salvamento heróico com exclusividade. Se captar um afogamento heróico, ainda melhor, pois acredita que emplacaria o vídeo no Datena. No dia em que lhe perguntaram se não sentia falta das aulas de ética jornalística de uma faculdade, hesitou um instante, levantou a sobrancelha esquerda e respondeu com outra pergunta: “O que é isso?”.

Patrícia decidiu ter um blog, afinal todos os seus jovens amigos jornalistas tinham um blog. Ouviu alguém dizer – aliás, quem mesmo? – que o jornalista hoje tem obrigação de ter um blog. Seu primeiro dilema foi: o que escrever? Descobriu que não tinha nada de interessante para escrever, mas isso não inibiria sua empreitada. Como não arrumava emprego mesmo, até que não era uma má idéia ter um blog. Decidiu que seria uma página opinativa. Comentaria sobre tudo, política, cinema e até futebol, mesmo sem entender do assunto. O diferencial seria o tom polêmico. Ouviu alguém dizer – quem mesmo? – que jornalista tem de ser provocador. Apenas as suas duas melhores amigas leram seu primeiro post – o impacto do fenômeno Lady Gaga na determinação da sexualidade das futuras gerações. Acharam o texto meio sem nexo, mas Patrícia considerou a discordância saudável. Empolgou-se tanto com o blog que, além de opiniões diversas - e muitas vezes sem nexo -, criou um canal para divulgar, “em primeira mão”, notícias que chupa dos grandes portais.

Eduardo gaba-se de ter rompido com o primitivismo das clássicas ferramentas de trabalho de um jornalista. Coisas de velho. É um jornalista impregnado de tecnologia. Novos tempos, enfim. Aboliu o bloquinho de anotações e a caneta, que lhe eram completamente inúteis. Nunca saía da redação para fazer reportagens mesmo. Bloquinho pra quê? Sua praia é outra. Manja tudo de softwares de edição de texto, de fotos, de vídeos. Vive falando de podcasts, webcasts, novas plataformas, redes sociais. E nisso é bom mesmo, melhor do que qualquer um na redação. Até que num dia o editor convocou Eduardo para uma força-tarefa nas ruas. Participaria de uma grande cobertura, deveria entrevistar gente comum. “Mas como se entrevista gente de verdade?” O editor lhe deu algumas instruções rápidas de como fazer uma apuração minimamente decente e, por fim, acrescentou: “preste muita atenção nas pessoas, nas coisas ao redor. Observar é muito importante. E quer saber? Ao vivo é bem melhor do que pela webcam!”.



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