Uma Passagem Bem Cara
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Uma Passagem Bem Cara


O mais importante lançamento do ano corre o risco de ser também o que reúne mais equivocos. "Passagens" de Walter Benjamin é um livro essencial para se pesquisar sobre a modernidade. O fato de não haver uma tradução do texto no Brasil, apesar de Benjamin ser um dos pensadores mais estudados no país, era um paradoxo. Quando foi anunciado o lançamento da obra-prima de Walter Benjamin, imaginei que finalmente os leitores brasileiros teriam a oportunidade de ter em mãos esta importante obra de filosofia. Não poderia estar mais enganado.


O fato é que aparentemente as editoras responsáveis pela publicação resolveram publicar um livro de referências, não um livro para ser lido por qualquer um em qualquer lugar. "Passagens", em medidas físicas - tamanho e peso -, é um livro que perde por pouco para o grande Dicionário Houaiss. E não imagino leitores com um 'quase-dicionário Houaiss' num ônibus, por exemplo. A comparação com outros livros enormes só piora as coisas: é muito mais confortável, por exemplo, ler o "Arco-Íris da Gravidade" de Thomas Pynchon, do que a edição de Benjamin. Duas alternativas poderiam contornar o problema: lançar a obra em mais de um volume ou utilizar uma capa e papel mais leves.


Agora o maior dos problemas é outro: o preço. São inacreditáveis R$ 210. Se a pessoa resolvesse comprar na Amazon hoje pagaria US$ 25 mais frete. O total seria algo em torno de R$ 100, ou seja, menos da metade da edição brasileira. Isso somente reforça a idéia de que a obra foi produzida com o objetivo de ser uma obra de referência e que seu público alvo não são os estudantes, mas sim as universidades. O que é realmente uma pena, pois se fosse escolhida a alternativa da publicação em vários volumes e num formato mais leve e econômico, provavelmente o resultado seria um aumento nas vendas. Provavelmente, afinal não entendo muito a lógica do mercado editorial brasileiro.

O que agrava esses defeitos é que o livro saiu de uma parceria entre a Editora UFMG e a Imprensa Oficial de São Paulo. Como já disse, não entendo muito a lógica do mercado editorial brasileiro, mas não poderíamos supor que deveria haver uma redução no valor da publicação, visto que tais estão ligadas à instituições públicas? Numa época onde a palavra 'inclusão' anda tão em moda, a edição de "Passagens" sendo ofertada a um valor tão distoante parece um contrasenso. Parece que os responsáveis pelo projeto se esqueceram que, de muitos modos, 'ótimo' em muitos casos precisa ser apenas 'bom'.



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