Coisas e Coisas


WALTER BENJAMIN SOBRE FOTOGRAFIA - II

[continuação da mensagem de 18 de Novembro]

Se a história da fotografia foi publicada em 1931, A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica apareceu em 1935. No ano seguinte, Benjamin fez profundas alterações, publicadas postumamente em 1955. Ainda em 1936, apareceria uma versão francesa abreviada do texto. Uma quarta versão apareceu em 1939. O tradutor José Muñoz Millanes preferiu esta última, editando o prólogo e as sete primeiras secções, mais relacionadas com a fotografia (pp. 91-109) [cá em casa tenho duas das versões do texto] [imagens de August Sander (1876-1964), um dos autores estudados por Benjamin, retiradas do sítio do Metropolitan Museum].

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Quando Benjamin (2004: 99) define aura no texto A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica, há frases que repetem o trabalho da Pequena história da fotografia, analisado no começo da mensagem, e que ilustra a interligação dos dois textos. É o caso do perfil da cordilheira numa tarde de Verão, o respirar da aura dessa montanha. Neste texto, ele fala de autenticidade, de independência, da reprodução técnica, da possibilidade da cópia chegar ao receptor, seja fotografia ou disco fonográfico. A obra de arte reproduzida mantém a sua consistência, mas perde o seu valor aqui e agora, perde o seu ideal de aura (2004: 97). A técnica reprodutiva desvincula o reproduzido do âmbito da tradição; a multiplicação das reproduções substitui a ocorrência irrepetível do reproduzido pela sua ocorrência massiva, escreve ainda Benjamin.atget_organ_grinder.jpg

Graças à reprodutibilidade técnica, provoca-se uma sacudidela e torna-se possível a regeneração da humanidade, uma ideia que remete directamente para o pensamento benjaminiano, numa junção de marxismo e de judaismo. Os dois processos propostos por ele estão relacionados com os movimentos de massa dos nossos dias, e o cinema é o seu agente mais poderoso (Benjamin estivera em 1926 em Moscovo e reflectira o cinema russo) [imagem de Eugène Atget (1856-1927), outro dos fotógrafos analisados por Walter Benjamin, retirada do sítio Masters of Photography].

Dos outros textos do livro, destaco o intitulado A fotografia (pp. 115-143), reflexões e citações feitas entre 1934 e 1940. O seu carácter fragmentário correspondia a um ficheiro pertencente ao projecto Das Passagen-Werk (A obra das passagens).

Nota: Walter Benjamin (1892-1940) foi filósofo e crítico literário alemão de origem judia. Licenciou-se em Berlim com a dissertação Conceito da crítica de arte no romantismo alemão. Entre 1923 e 1925, trabalhou no livro Drama barroco alemão. Deixou ensaios de grande importância tais como os sobre Kafka, Baudelaire e as arcadas de Paris. Entre outros, foi influenciado pelo pensamento de Hegel e Lukács. Com a chegada do nazismo, ele procurou refúgio em Paris, intentando alcançar os Estados Unidos por passagem por Portugal. Infelizmente, na fronteira franco-espanhola, temeu ser preso e acabou por se suicidar.



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