O amor nos tempos do pescoção
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O amor nos tempos do pescoção


O foca já se preparava para ir embora naquela noite de sexta-feira. Tinha um encontro marcado. Mas foi surpreendido pela notícia de que teria de trabalhar até as duas da manhã no pescoção. Nem sabia o que era um pescoção. Havia sido tão difícil marcar aquele encontro e agora teria de desmarcar? Ou pediria que ela esperasse um pouco? Ligou e disse que, em vez de chegar às 11 horas, chegaria à meia-noite, meia-noite e meia, no máximo. Não queria desmarcar. Esperou tanto por tal momento. Ela compreendeu. Como era seu primeiro pescoção, tinha pouca coisa para escrever e conseguiu deixar a redação bem antes do que projetara seu chefe. Dirigiu em alta velocidade e chegou ao bar um pouco antes de uma hora da manhã. Para sua tristeza ela não estava mais lá. E não teve uma segunda chance. Ficou sabendo depois, por uma amiga da moça, que ela queria distância de jornalistas. São piores que médico! Desde então, ele passou a odiar os pescoções.

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Era madrugada de quinta-feira, dia do fechamento do seu suplemento semanal. A redação ficava praticamente vazia. Ao contrário de muitos de seus amigos, que odiavam o pescoção, ele adorava. Por quê? Porque era também o dia do fechamento do suplemento dela. Ele, que sempre foi um cara solitário, mandava a ela mensagens pelo computador. E ela respondia. Vez ou outra, marcavam de se encontrar no café do corredor, mas não era para espantar o sono. Era para ficarem mais próximos. Na madrugada de quinta-feira, tudo era calmo por lá. Podiam conversar tranqüilamente. Viviam essa rotina havia meses. O fechamento, as mensagens, o café, os sorrisos trocados. E, ao fim do trabalho, sempre se despediam com um beijo no rosto, como bons amigos, e cada um seguia para sua casa. Até que, num certo dia, ele fez a ela um convite: deixarem o prédio do jornal, que ficava no centro, e seguirem a pé juntos até um bar próximo. Ela aceitou. Passaram então a viver uma nova rotina, fora da redação, sempre após o fechamento. Depois do bar próximo vieram outros programas, bem mais interessantes. Os pescoções, que sempre foram agradáveis a ambos, começaram a ficar sufocantes, porque demoravam tanto a acabar. E eles tinham pressa de viver.

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Eram duas horas da manhã e o jornalista ligava com insistência para sua casa. Mas ninguém atendia. Resolveu ligar então para o celular de sua mulher. Ela respondeu. Ele queria saber onde ela estava. E ela disse que estava em casa. Por que não atendia o telefone então? Deveria estar quebrado, ela supôs. Ele tinha uma boa notícia. Conseguiu dar conta do trabalho com eficiência naquela madrugada e já estava deixando a redação. Mas você não disse que chegaria em casa apenas às quatro horas?, ela perguntou, assustada. Sim, mas ele foi eficiente naquele pescoção e poderia ver mais cedo sua querida mulher. Ela, gaguejando, disse que ficara feliz com a notícia e pediu para o marido vir com calma, porque era perigoso dirigir em alta velocidade na madrugada. Ninguém respeita os faróis. Pediu ainda que ele passasse no mercado 24 horas e comprasse alguma comida.

- Compro, sim, querida. Eu te amo!

- Eu também te amo, Duda.



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