Coisas e Coisas
Entrevista com o Doutor – parte final
Para quem ainda não leu a primeira parte, é só clicar aqui.A Felizarda seguiu com o Doutor para uma sala da redação reservada a entrevistas, reuniões de pauta e eventuais barracos a portas fechadas. O problema é que a sala era toda de vidro e ficava fácil para as mulheres do lado de fora bisbilhotarem a dupla. Mal havia começado a entrevista e a Invejosa já havia tomado uns três cafés ali perto do vidro. O que mais irritou a Felizarda, contudo, foram as invasões da sala. A Recepcionista ("que vadia!") interrompeu a entrevista por duas vezes, a primeira para oferecer água e a segunda para oferecer chá ao Doutor. A Casada entrou outras duas vezes, a primeira para saber se estava tudo bem por lá e a segunda também para saber se estava tudo bem por lá.
Fora estes pequenos aborrecimentos, a entrevista transcorreu sem grandes problemas. A Felizarda ligou o gravador e o deixou bem pertinho do Doutor. Queria qualidade máxima naquela voz. A noite na banheira prometia. Como a Felizarda acumulou um vasto conhecimento sobre o tema (ah, quantas horas de pesquisa!), fez perguntas interessantes. A conversa teve fluidez e impressionou o Doutor, que elogiou o nível de informação da Felizarda. Ela fingiu um sorriso encabulado e convenceu-se de que a estratégia adotada (decote sem pudor + conhecimento) estava dando certo.
Era quase início da noite da sexta-feira quando a entrevista acabou. A Felizarda acreditava que a redação já estivesse vazia, mas ninguém havia arredado o pé de lá até o momento, principalmente a Invejosa, colada ao vidro e com seu oitavo ou novo copo de café nas mãos. O Doutor levantou-se, deixou seu cartão com a Felizarda e preparou a despedida.
- Ficou alguma dúvida?, perguntou ele.
- Nenhuma! Tudo compreendido!, respondeu a Felizarda.
- Que pena! Eu iria me colocar à sua disposição para solucionar qualquer dúvida. Se quisesse ligar depois para checar alguma informação...
- Bom, a gente sempre tem dúvida, né? Quem não tem dúvida? Posso não ter dúvida agora, mas com certeza vou ter dúvida depois, quando eu estiver ouvindo a fita na minha ban..., na minha bancada do escritório!
- Então, vou esperar você ter sua dúvida. Pode ligar mesmo no sábado, viu? Estarei em São Paulo neste fim de semana, sozinho.
A Felizarda acompanhou o Doutor até a saída da redação com um andar triunfante. Cruzou o ambiente sem medo, desprezando aquela mulherada que parecia fazer um corredor polonês. Tinha agora outra certeza: perguntas inteligentes numa entrevista podem não render uma promoção ou um aumento de salário; elas podem render muito mais!
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