A morte de Carlos Silva
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A morte de Carlos Silva


Carlos Silva foi um locutor e realizador de rádio no Porto. Ele criou um dos primeiros programas noturnos da rádio portuense, no ano de 1953, Última Hora. Foi ele o iniciador do programa que mais entrou pela madrugada, no tempo em que as estações fechavam à meia-noite.


Fiz-lhe uma entrevista notável (para mim) em Agosto de 2012. De tão entusiasmado, fomos do café onde decorrera a entrevista para casa dele, onde me mostrou documentos relacionados com a sua actividade. Foi um momento inolvidável.

Uma das profissões iniciais de Carlos Silva, nascido a 27 de maio de 1926, foi a de vendedor das máquinas de costura Oliva, que lhe granjeou muita popularidade e muitos contactos. Antes, começara já como locutor da estação mítica Portuense Rádio Clube. Depois, profissionalizou-se na estação Rádio Porto, que pertencia ao conjunto dos Emissores do Norte Reunidos, depois integrado na Emissora Nacional (actual RDP). Foi muito amigo dos Mafras (conjunto de música popular e folclórica António Mafra), acompanhando-os em digressão pelos Estados Unidos. Na entrevista que me deu, recordaria assim o seu começo profissional:

"Porque a clientela da Rádio Porto também era muito seleccionada. A Rádio Porto tinha nos Clérigos, tinha uma casa de electrodomésticos, tinha os Hornyphon [marca austríaca de rádios, com publicidade na imprensa em 1952], rádio Hornyphon. Ainda hoje há um senhor que sempre que passa por mim: “oh, Hornyphon é um rádio que é bom”. Ainda hoje… A Rádio Porto, a Orsec e o Rádio Clube do Norte tinham mais categoria, percebe, principalmente a Rádio Porto e a Orsec. Na Orsec estava um casal que era marido e mulher, eram os locutores e eram muito bons locutores. Eu não me lembro o nome deles. Depois, a certa altura aparece um senhor que é o senhor Militão Porto, que é jornalista. E foi lá à rádio falar com o senhor Rodrigues, era o sócio maioritário, para fazer um programa a partir da meia-noite . E o senhor Rodrigues olhou” “oh, senhor Militão, o senhor quer fazer um programa à meia-noite? Mas à meia-noite ninguém ouve o rádio”. “Oh, senhor Rodrigues, mas eu queria tentar”. “Mas o senhor veja lá”. O Militão era jornalista mas não tinha nada a ver com a rádio. Começa a fazer o programa à noite. Da meia-noite à uma. Já não sei quanto é que ele pagava. Agora sei que ao fim de seis meses ele deu com os olhos na água. Porquê? Porque tinha de contratar pessoal, tinha de comprar discos. Quando ele acaba o programa, eu já não sei esses pormenores, vou ter com o senhor Rodrigues: “oh, senhor Rodrigues, eu queria fazer o programa do senhor Militão”. “Oh, pá, tu és doido? Então não viste que ele… A fazer o quê, pá”? “Oh, senhor Rodrigues, deixe-me tentar”. “Oh, pá, tu vais-te meter numa, tu vê lá”. “Senhor Rodrigues, faça-me um preço jeitosinho e tal. Eu já tenho anúncio para o programa”. “O quê, tu já tens anúncios, mas eu disse-te alguma coisa que ias fazer o programa”? “Oh, senhor Rodrigues, eu arranjei clientes. Já tenho anúncios para pagar uma certa importância”. E, então, alugaram-me aquela hora, baratíssima. [...] Eu tinha muito gosto naquilo e comecei a interessar muita gente: o Arnaldo Trindade, a Rádio Triunfo, que eram produtores de discos. O Arnaldo Trindade tinha a representação em Portugal dos discos da Vogue. Eu fui, veja lá que a coisa tomou tal extensão que eu fui convidado pela Vogue a passar lá uns dias a Paris. Portanto, o Arnaldo Trindade, a Rádio Triunfo, o Figueiredo aqui da rua Santo António, que era malas, carteiras de senhora, também tinha uma secção de discos".

O velório dele decorre hoje no Tanatório de Matosinhos, na rua de Sendim, com funeral marcado para amanhã à tarde.



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