Homem livre
Coisas e Coisas

Homem livre


Antes de perder o emprego, eu era tido como um jornalista talentoso, pelo menos era assim que minha mãe me descrevia para as amigas do bingo. Mas a vida gosta de brincar com a gente e, quando eu menos esperava, tornei-me um problema social. E o pior: fui condenado a conhecer aqueles programas vespertinos da TV aberta, de fofocas e baixa gastronomia.

Mas agora estou mais feliz. Ao folhear um jornal encontrado por acaso numa estação do metrô dias atrás, li a notícia de que os brasileiros trabalham em média 132 dias num ano somente para pagar impostos, mais de um terço do ano apenas para engordar os cofres públicos. Perceberam o que isso significa para mim? Sou um homem livre desses tributos. Tive vontade de correr pela plataforma de embarque da estação, beijar bochechas desconhecidas e gritar: “Com o meu desemprego, não dou um mísero centavo para o governo.”

Pelos cálculos do IPEA mostrados na reportagem, em todo o mês de junho, por exemplo, o meu ócio foi destinado a não pagar os benefícios da Previdência Social e as pensões e aposentadorias dos servidores públicos federais. Dediquei outros vinte dias do mês de maio a não amortizar os juros da dívida pública. O meu dolce far niente ainda prejudicou em um dia e meio a distribuição do Bolsa Família. Será que a Dilma vai ficar brava comigo?

A minha viagem de metrô nunca foi tão empolgante. Não conseguia tirar da cabeça a matéria do jornal, os números. Via pessoas apressadas, seguindo para o trabalho. Mal desconfiavam que o árduo esforço do dia seria apenas para custear gastos do governo, talvez as mamatas secretas do Senado. Desci do metrô e caminhei lentamente até uma agência da Caixa para receber a derradeira parcela do meu seguro-desemprego.

- Sabia que você passará a semana inteira, talvez o mês inteiro, trabalhando só para me pagar este benefício?, perguntei à mocinha que me atendeu no guichê.

- Não entendi; o que disse, senhor?

Respondi apenas com um sorriso cruel.



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