Divã
Coisas e Coisas

Divã


Pode parecer maluquice minha, doutor, ou melhor, é maluquice, sim, caso contrário eu não estaria aqui. Se não fossem as maluquices, aliás, imagino que nem o senhor estaria aqui. Como eu posso descrever o meu problema? Bem, eu não consigo folgar. Isso mesmo, eu não consigo aproveitar um dia de folga. Tenho um bloqueio, entro em pânico, sabe? Eu sou jornalista e um ser humano que é jornalista trabalha muito, quase não tem fim de semana, feriados, não viaja com os amigos, não comemora aniversário de ninguém. Até aí tudo muito normal. Acho que o meu trauma começou num dia específico. Eu estava trabalhando havia uns 40 dias sem folga quando o meu editor chegou para mim quase no fim da noite e disse: “Amanhã, você terá um dia de descanso. Sortudo, hein?”. Esse amanhã era uma quinta-feira. Foi uma coisa, assim, tão repentina que eu fiquei assustado, meio paralisado. Como aproveitar uma quinta-feira de folga quando se sabe disso numa quarta-feira às 11 horas da noite? Alguém estaria disposto a ir comigo a uma sessão de cinema às 2 da tarde de uma quinta-feira? Claro que não, porque nesse dia estão todos trabalhando. Você não tem companhia para fazer programa algum! Eu liguei para a assistência técnica para consertar a minha lavadora de roupas e sabe o que a menina me respondeu? “Nosso prazo para poder estar agendando uma visita é de 48 horas, senhor”. Mas na sexta-feira eu já voltei ao trabalho. Nem comer pastel na feira eu consegui, porque a feira no meu bairro é de quarta e sábado. Como meu carro estava quebrado e eu estava sem tempo de ir a um mecânico – que levaria umas 72 horas para "estar resolvendo" o problema –, não pude sequer sair pela cidade em busca de uma feira. Doutor, desde esse fatídico dia, minha vida mudou. Morro de medo de receber uma folga inesperada na véspera, sem a chance de me programar, de aproveitar o dia livre. Eu não consigo mais relaxar quando não estou trabalhando, mesmo quando o descanso é aos sábados ou domingos. O senhor acha isso normal? Claro que não! Doutor, o meu caso é grave? Me diga, por favor, o meu caso é grave? Doutor, o senhor não está dormindo, está? Doutor? Doutor?



loading...

- O Primeiro Dia De Uma Foca Na Redação
Aí, mãe, meu chefe pediu pra esperar, pra ver se rolava alguma coisa. E nada. A tarde toda. Aí ele: pintou um caso de polícia. Gosta de matéria com sangue? Aí eu: adoro matéria com sangue. Aí ele: liga pro delegado nesse número. Doutor Junqueira....

- Feira
– Olha o elogio! Jornalista bonita não paga nada pra experimentar! – Bom dia, seu Ailton. – Bom dia. A patroa vai querer levar o quê? – Tem folga? Eu queria uma dúzia bem gostosa de folga. – Não tem, querida, me desculpa. Folga tá em falta....

- Sobre Os Plantões Jornalísticos E O Amor
Primeira parte – O baile de carnaval Cris achou que ele estava fantasiado de repórter com aquele colete de imprensa. - Ah, não é fantasia? - Não. Eu não sou folião. Sou jornalista. Tô aqui trabalhando. - Nossa, não sabia que beijar o pescoço...

- Ser Jornalista Ou Não Ser?
O meu pai, claro, acha loucura. Gustavo, jornalista é igual a jogador de futebol. Só meia dúzia se dá bem nessa vida. O resto rala. Tem tanta profissão que dá mais futuro, meu filho, sei lá, presta concurso pra Petrobrás, pro Banco do Brasil....

- Entrevista Com O Doutor – Parte Final
Para quem ainda não leu a primeira parte, é só clicar aqui. A Felizarda seguiu com o Doutor para uma sala da redação reservada a entrevistas, reuniões de pauta e eventuais barracos a portas fechadas. O problema é que a sala era toda de vidro e...



Coisas e Coisas








.