Anthony Smith, em Books to bytes. Knowledge and information in the postmodern era (1993), trabalha a ideia da abundância com as tecnologias de informação. Na final do século XX, houve um grande aumento em termos de interacção e convergência de máquinas de texto e de imagem. Mas essa propensão vinha da época vitoriana, expresso em equipamentos como os de Bell (telefone) e fonógrafo (Edison).
Mais visíveis que o telefone e o cinema foram os sistemas de estradas e ferrovias, o que atraiu a atenção dos historiadores sociais. Mas há fortes diferenças: 1) o transporte facilitou a suburbanização no século XX, 2) as comunicações exerceram poder na mudança das “imagens” de diferentes partes da cidade. Cada nova onda de aparelhos registou uma evolução da estrutura da cidade, no desenvolvimento da vizinhança e na estrutura da família. Os cinemas nos anos 1920 e 1930 levaram as pessoas a sair de casa; a televisão nos anos 1950 redireccionou o lar como o centro da família. Hoje, os múltiplos aparelhos dividem a família e reindividualizam-na, permitindo e encorajando um novo micro-consumismo.
A invenção de Daguerre foi um desenvolvimento natural das capacidades no trompe l’oeil. Na Grande Exposição de 1851, o estereoscópio fascinou as multidões. A imagem em movimento dos Lumière captou a imaginação contemporânea na década de 1890, apresentando cenas da vida real num minuto, como o comboio a chegar à estação, os trabalhadores a sair da fábrica, o jardineiro com a mangueira [algumas das imagens dos Lumière podem ser apreciadas no pequeno vídeo abaixo, publicado já no blogue em 11 de Setembro de 2006].
Anthony Smith chama a atenção para o facto de a evolução da tecnologia concentrar-se em interacções e dependências – social, artística, técnica e intelectual. O trabalho de Marconi na rádio ocorreu no mesmo momento do dos irmãos Lumière no cinema; Zworikyn (cinescópio do televisor) estava a trabalhar nos princípios básicos da televisão na mesma década do trabalho principal de Méliès. Criaram-se simultaneamente sistemas de regulação para o telégrafo e para o telefone. A televisão e a rádio têm um feixe comum de técnicas cujo ímpeto conduz a uma aspiração comum.
Leitura: Anthony Smith (1993). Books to bytes. Knowledge and information in the postmodern era. Londres: British Film Institute
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