REDES
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Um tema central do livro de Brian Winston (Media Technology and Society, 1998) é rede, a que dedica a parte IV. A rede é o grande sistema, escreve. Se a rede de computadores na década de 1990 assume as proporções que hoje todos conhecemos, com a omnipresente presença da internet, Winston remonta a ideia de rede, em termos modernos, ao telégrafo de Morse e ao telefone de Bell, tecnologias eléctricas e ainda não electrónicas.

Em 1845, Morse e O'Reilly concorriam na construção de linhas de telégrafo. O investimento elevado, as lutas judiciais para resolver atribuição de licenças em vários pontos dos Estados Unidos e o vandalismo de postes e linhas de transmissão levaram à aceitação de uma empresa monopolista forte naquele país. Na Europa, eram os Estados que suportavam esse investimento.

A ideia de rede perpassou para as comunicações transoceânicas de telégrafo. Mas vigorava ainda o princípio do ponto-a-ponto, de emissor a receptor fixo. Podemos dizer que se tratava de uma rede rígida e linear. O telégrafo transmitia mensagens criptadas (Morse), mais tarde reformado pelo telex, com texto, e que ainda perdura em algumas redacções.

O telefone (1875) trouxe novidades. A central telefónica era um centro onde chegavam e partiam muitas linhas, que se ligavam num percurso multilinear: A podia ligar a B, C, D, etc., de cada vez que fazia uma chamada. O operador (masculino) do telégrafo cedia o lugar à telefonista, pois as mulheres eram mais gentis e eficientes no atendimento. Além da transmissão da voz, os visionários do telefone ofereceram notícias e música, não vingando como negócio mas antecipando a rádio. Durante décadas, a voz permaneceu como território do telefone, não se vislumbrando o caleidoscópio de actividades que o futuro telemóvel traria: texto, máquina fotográfica e de vídeo, acesso à internet, máquina de jogos vídeo.

A electrónica entrou nas redes com a radiodifusão - a rádio na década de 1920, a televisão na passagem da década de 1940 para a década de 1950. Voz e imagem concorreriam com o texto dos media impressos e eléctricos (jornais, telefone).

Winston dá um relevo especial às tecnologias de gravação: o disco, o filme, o gravador de som, o gravador de vídeo. O registo do som e da imagem permitirá a repetição de programas, para além do directo, na rádio e na televisão. O prime-time da televisão assegura igualmente o directo e o diferido, o que eleva o conceito de rede. Além da ligação aqui e agora, ela pode dilatar-se no tempo e no espaço, consequência de grande efeito nos anos de 1990 com o computador.

As redes de satélite, nomeadamente as ligadas ao audiovisual, a televisão por cabo e as redes de computador são outras áreas de análise desenvolvidas por Winston. Escreve ele que a ideia de redes é tão velha como as telecomunicações. Do mesmo modo que as telecomunicações do século XIX, como o telégrafo e o telefone, a internet inclui a existência de máquinas (computadores) e o uso de codificadores de linguagem (mais o telégrafo que o telefone). Num período equidistante entre a descoberta e aplicação das redes de telecomunicações e as redes de computador surgiu uma teoria importante, a teoria da informação, em finais da década de 1940, que justificou as tecnologias então existentes e as que iriam surgir. A teoria emergiu num tempo de guerra em Norbert Wiener, que estudara a balística e promovera o termo cibernética, e em Shanon e Weaver que elaboraram um sistema telefónico mais eficiente.

As actividades de protótipo que conduziram à internet começaram com a ligação de um computador a um telefone fixo, em 1940, na IBM. Depois, em 1945, falava-se em bancos de dados (o memex era um aparelho de registo áudio e microfilme). Mais tarde, veio a Arpanet (1972) - o resto da história é contado em todos os livros sobre a internet.


Leitura: Brian Winston (1998). Media Technology and Society. Londres e Nova Iorque: Routledge



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