Trilha sonora para este post: Love You 'till The End The Pogues
Maldito tempo. Minutos parecem horas. Horas parecem dias. Dias parecem meses. Dois meses... quanto duraria?
Eternidade.
Quando ela abriu os olhos, ele já estava ali. Olhando-a nos olhos. Com um sorriso meigo e um olhar sincero. Ela demorou um pouco para entender o que estava acontecendo. Ao mesmo tempo, sabia que era algo grandioso e definitivo. Levantou de onde estava, ajudada por aquele príncipe que lhe olhava. Viu-se em uma caixa de cristal, cercada por flores... muitas flores. Várias pessoas a olhavam espantadas. Buscou encontrar algum rosto conhecido. Ninguém. Buscou reconhecer o lugar onde estava. Não conseguiu. Não parecia ser um lugar desconhecido, mas as imagens que tinha na lembrança simplesmente não encaixavam com o que estava vendo agora. Aos poucos começou a lembrar de quando era uma menina. De todos os cuidados que recebera, de todas as recomendações que ouvira. Lembrou também da torre onde morava. Lembrou da mãe. Do pai. Das madrinhas e da profecia. Lembrou de saber, desde menina, que teria que esperar cem anos por aquele que seria o seu príncipe. Lembrou que estaria enfiada em um maldito sono profundo durante tanto tempo. Praticamente uma eternidade.
A verdade é que nunca acreditou muito nessa história de profecia. Por isso mesmo, quando todos lhe diziam para tomar certos cuidados, ela nem deu muita bola. Experimentou a vida. Usou substâncias ilícitas. E as lícitas também. Apaixonou-se algumas vezes e imaginou ter encontrado seu príncipe encantado, algumas vezes. Visitou lugares. Foi a alguns bailes. Nunca perdeu nenhum sapato, embora tenha tentado essa tática algumas vezes. Buscou o amor. Incansavelmente. Insuportavelmente. Impacientemente. Nem sempre consequentemente!
Até que um dia, de saco cheio com essa história toda, ficou sabendo que teria que conhecer mais um pretendente. Um tal príncipe que tinha vindo de terras distantes em busca de estudos e bla-bla-blá. Ele viria em uma festa em sua casa. Convidado por outros, porque ela já tinha desistido de convidar gente para festas. O caso é que o cara veio e ela meio que foi com a cara do cara. Conheceram-se. Beijaram-se. Fizeram sexo. Apaixonaram-se. Não tão rapidamente quanto foi escrito aqui, obviamente.
Só que o príncipe teve que voltar para seu reino distante. Uma viagem temporária. Mais ou menos dois meses. Tudo tranquilo. Nada demais. Mas o tempo, maldito tempo faz tudo ficar tão estranho. Os minutos parecem horas. Horas parecem dias e sete dias depois a princesa já estava surtando. Literalmente batendo com a cabeça na parede. No tempo das princesas não existia web cam, msn e essas bobagens que dão a ilusão de proximidade. Não. Essa princesa dessa história sentia-se perdida. Sozinha. Abandonada. Embora saibamos que isso não era a verdade. O príncipe também sentia falta da princesa. O príncipe também queria voltar. Mas aguentava melhor o tranco. Ou pelo menos parecia aguentar.
Enfim, numa dessas noites em que a princesa estava no momento de baixa de sua crise bipolar, tomou algo que não bateu bem. Uma mistura de barbitúricos, ansiolíticos com álcool e anticéptico bucal. Dizem também que ela picou o dedo em uma roca de fiar. Sono profundo. Praticamente cem anos. Coma profundo. Overdose. Eternidade. Dormiu. E foi colocada na UTI de um dos hospitais mais modernos do mundo. Rodeada por aparelhos de última geração. Em uma sala cheia de janelas, vidros e espelhos. Para que ninguém a perdesse de vista. Para que o menor sinal de recuperação fosse informado. A população do reino mandava flores para ela. Flores... muitas flores para o seu túmulo de cristal.
Quando voltou de viagem o príncipe foi direto até o hospital e encontrou-a daquele jeito. Quietinha. Branca como neve. Problemas de circulação sanguínea. Olhou-a longamente. Sofria por não poder fazer nada para ajudá-la. Na despedida, porque ele tinha que ir até o hotel deixar as malas, beijou-a. E, como num conto de fadas, ela abriu os olhos.
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