Coisas e Coisas
bárbara
Passados meados da década de noventa, encontrei a mais bela entre todas as mulheres. Minha concepção de beleza pode não ser de agrado do leitor, mas garanto-lhes: ela era bárbara.
Tudo parece ficção, porém, gostaria de dar veracidade a essa história, pois tirou minha quietude durante noites em que vê-la abrindo minha porta, tornou-se uma ilusão verdadeira.
Pois, então, vamos aos acontecimentos.
Sempre desejei e continuo desejando – compartilho o desejo com seres masculinos – encontrar uma fêmea que me convidasse: “Vamos conhecer minha ‘casinha’?”
Saí de casa com intenções duvidosas, já que há alguns anos quebrei a barreira familiar com o intuito de me livrar do seminário que meus pais insistiam em acreditar ser a melhor opção.
Passei na casa de Rodolfo, e esse acompanhou minhas lamúrias por ter sido chamado de drogado e ladrão.
– Sabe Rodolfo, acusaram-me de roubar um par de alianças para comprar maconha!
O rapaz balança a cabeça, sabendo que, após sete anos de convívio, aquele seria um ato incapaz por parte de Serafim.
Acho as lamúrias muito chatas. Confundem a dosagem de álcool que ingerimos. Diversas vezes nos embebedam. Portanto, continuarei com a beleza de uma quinta-feira.
Rodolfo e eu resolvemos ter atitude e entramos no Atitude quase uma hora da manhã. O bar não condiz com seu nome, pois todas as noites está recheado da maioria que tem como atitude dançar como uma égua e não beber Coca-Cola por causa da celulite.
– Serafim, não gostei!
– Rodolfo, o ambiente, para mim, é o que menos importa. Sentemo-nos e vamos beber uma cerveja.
Proposta irrecusável no calor provocado pelo grupo que ofendeu meus ouvidos quando tocou um cover ridículo da minha banda preferida: Nirvana. Tudo bem... mas ela estava atrasada. Fui ao banheiro e quando voltei, Bárbara abria a porta. Acompanhada de uma amiga, insinuou sentar-se à mesa ao lado; entretanto, meu olhar, também, insinuou e, percebendo, aproximou-se e me beijou a face.
– Demorou para nos encontrarmos. Disse-me.
– Valeu a pena?
– Não sabes o incômodo da espera.
Todos foram apresentados, mas não entrarei em detalhes, pois minha cabeça se encontrava caída devido à cerveja e àquela visão bárbara.
– Posso beijar-te? Fui bastante direto.
– És apressado, Serafim!
A pressa, para as mulheres, é um adjetivo. Imaginem o tempo que demoram para se arrumar; ou a delicadeza – não o afeto feminino – que, pressupõem elas, ser um ato agradável. Com isso, Bárbara judiava de meus hormônios como pulga em uma caixa.
Agarrava-a, tentando assim, enlouquecer o corpo esbelto composto por bárbaros seios, bárbaras nádegas... bárbaro. O formoso ser é uma safada assumida! Recordo que isso estava claro desde o primeiro segundo do conhecimento. Ela estava acompanhada. Indaguei-a, como defesa, também, levantou uma questão:
– Olhavas para alguém mais?
Argumento inquebrável que bateu em meu rosto como castigo ao meu pensamento safado. Leitores, concluam do modo mais propício a frase anterior.
As garrafas acumulavam-se na mesa até que, de repente, a boca e a língua não falavam, apenas; agora, sugavam meus lábios.
Sendo totalmente realista: nunca imaginei uma mulher tão bárbara em minha vida.
– Serafim, não seja grudento. Opinou Rodolfo.
Sei que estava correto, todavia, não poderia deixar de sentir o perfume digno de uma dama. Conseguem imaginar o que faria por ela? Dancei umas músicas lentas que recordaram-me as antigas reuniões dançantes. Foi bom! Dois aspectos: o encontro, ainda que por cima da roupa, dos sexos e como falei, as lembranças de tantas pisadas nos pés das garotas.
- Vamos conhecer minha casinha?
Não. Tudo o que sempre sonhei. Conhecer a casinha de Bárbara. Até as palavras foram como minha utopia criou!
– Levar-te-ei no colo!
- Nosso balanço não permitirá.
Acreditam que ela é safada?
Fomos no carro que, no momento, desejava ser meu. Nada... o banco traseiro é enorme. Sabendo disso, puxei Bárbara para meu colo. Nem um pouco tímida, dançou a horrível música que aquela maioria resolveu gostar por conformismo.
Mais uma vez: nada.
Morava ela em uma casa agradável, com um quarto agradável e uma cama com espelhos.
– Deixe-me colocar uma música.
– Amor, és muito gentil.
Será que concordarão comigo? Vejamos: já me chamou de amor; poderíamos fazê-lo? Digo isso inocentemente, pois o sexo...
– Prometeste me pegar no colo.
De imediato ergui aquela bela forma.
– Não acredite no que ouves. Pediu-me.
– Se assim fosse, não estaria aqui.
Estaria sim! Aqui estou. Acho que, no momento, isso não importa. O que mais me preocupava era o elevador que resolveu trancar no térreo. Clamei por uma boa assistência – é o que mais gosto – para resolver o problema. Estava entregue em boas mãos.
Quando abdiquei da tortura, uma frase de impacto:
– Cuida de mim?
– Oh, beleza infinda, ofereço-te meu descanso para que possas ir ao cabelereiro.
As risadas chamaram a atenção de Lúcia e Rodolfo. Parecia que haviam aproximados seus, talvez, desejos.
Desejo que, o meu, Bárbara saciou rapidamente da mesma forma que mais uma vez me fazia desejá-la. Mas estávamos cansados. Recebi seu sexo de forma única; intensa.
Ela logo adormeceu. Sentei-me na cama e puxei, solenemente, o lençol e pus-me a observar. Era verdade!
Mal havia adormecido, Rodolfo fala que vai embora.
Suspirei de raiva, comi uma bolacha recheada, alisei o cabelo de Bárbara e agradeci por ela ser bárbara.
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