a garrafa perdida
Coisas e Coisas

a garrafa perdida


Sentado sempre em um dos cantos, observo o segurar da caneta e o passar da mão sobre o papel.
Há três meses e meio, cinco linhas foram dadas a escolha; como não apreciei nenhuma, resolvi ir até o balcão e pedir uma mulher não fútil.
- Está em falta. Disse-me o atendente, também, decepcionado.
Voltei para o meu lugar e a caneta estava se espreguiçando. Gostei da sua cor e da sua tampa, mas não sei quanto tempo dura a carga. Isto é um assunto sempre comentado em rodas alucinógenas e o que se define é a entrada, sutilmente, nos aspectos desagradáveis. Assim, não nos influenciamos.

Saibam vocês que quase nunca ocorre o planejado, porém, creio que não me importaria em vê-la bocejando logo após acordar.
Deixe-me passear um pouco... o esquecimento me fez esquecer do cigarro. Mais uma questão não resolvida. Com raiva, pelo esquecimento, acalmei-me com o encontro frontal que transmitiu o piscar dos olhos verdes com olheiras.
Sentei, novamente, no canto e, nos meus ouvidos entravam palavras inaudíveis. Preferi virar para o lado esquerdo e observar, incansávelmente, a segunda pessoa. Aquela de olhos verdes com olheiras. Estava de braços cruzados... será que mostra encolhimento? Não sei; para a minha pessoa não significa absolutamente nada, pois todas estas futilidades cansaram meus olhos castanhos com olheiras.

O creme cheiroso que ela começou a espalhar poderia depositar-se nas minhas costas e a pílula engolida sem água poderia aluciná-la, trazendo-a, cheirosa, para meu encontro.
Ao invés, traduz para o tradicionalismo a postura desejada que, ultimamente, ando ignorando.
Nestas horas questiono minha timidez. Sempre questiono algo, mas a vergonha é aborrecedora. É tão simples!
- Bom dia. Apenas quero exaltar a vontade de ficar estupefado com tanta beleza.
Mais uma vez o tradicional aparenta chamar mais a atenção do que o...

O puxar leve na testa parece chamar-me. Vamos lá! Tente! No momento, estou impossibilitado, pois se alto falar, chamarei olhares desconcertantes. E daí?
É... dou muitos tiros no nada, mas mais uma vez temo gastar minhas balas.

Quando joguei a pedra no carro e errei o objetivo, repensei no caminho e caí no umbigo da moça. Ao sair, avistei pêlos que encaminhavam-se a diversão que o momento deve proporcionar. Queres?
As estrelas que seus cabelos seguram – e vice-versa – serão, levemente, soltas para liberar o balanço dos fios finos. Sua nuca “sofrerá” um soprar que arrepiará até seus joelhos e, com isso, ganharei seu beijo de olhos abertos. Aí, onde estás com a mão, passarei minha língua e escutarei seu som clássico. Sei que tudo não passa de utopia, portanto, peço-te que não entre na futilidade para discriminares o que anseio e, acalme-se, pois, sua garrafa perdeu-se pelos quadradinhos floreados.



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