TEORIA DA INFORMAÇÃO
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TEORIA DA INFORMAÇÃO


No seu livro Teorias da Comunicação, Mauro Wolf (1987: 98) indica que a teoria da informação nasce nos trabalhos de engenharia das telecomunicações. Shannon, em 1948, considerou a teoria da informação como teoria do rendimento informacional, destinada a melhorar a velocidade de transmissão das mensagens (Wolf, 1987: 102) e diminuir as suas distorsões (ruído). É uma teoria sobre a transmissão óptima das mensagens. A transferência de informação efectua-se da fonte para o destinatário enquanto a transferência da energia se efectua do transmissor para o receptor. Um dos méritos de Shannon foi avaliar a entropia, os defeitos da cadeia de energia informacional (Wolf, 1987: 100).

Em A Obra Aberta (2009), Umberto Eco fala das poéticas contemporâneas e das suas propostas de reconstrução variável do material ao fruidor. Este tem um campo de probabilidades interpretativas (Eco, 2009: 121). Para perceber melhor a interpretação das poéticas, Eco socorre-se da teoria da informação. Esta (para quem Mauro Wolf prefere a designação de teoria matemática da comunicação) procura calcular a quantidade de informação contida numa determinada mensagem, delimitada pelos conhecimentos que o indivíduo possa ter sobre a credibilidade de uma fonte. A informação é uma quantidade aditiva, em que a quota de novidade depende das expectativas e capacidades do destinatário (Eco, 2009: 122). Eco (2009: 132) também lhe chama acrescentativa, ligada à originalidade e não à probabilidade. Eu acrescento o papel central da notícia: o que é novo, transmitido rapidamente e partilhado, original.

Eco apropria-se dos princípios da termodinâmica [1) a energia aplicada num motor produz trabalho mas há energia que se dissipa sob a forma de calor; 2) o consumo da energia pode conduzir à entropia do sistema, à sua desagregação] para identificar a entropia com o aumento ou redução da informação, típica perspectiva dos teóricos dos anos de 1960 e 1970, quando as ciências sociais se sentiam impelidas a trabalhar com conceitos retirados das ciências naturais ou exactas. Mais interessante é o seu interesse pela teoria matemática para explicar as poéticas contemporâneas, num momento em que a estética conceptual dominava o pensamento criativo e artístico. Dono de uma vasta cultura, Eco é cauteloso no passo seguinte: a entropia é apenas uma medida estatística e a teoria da informação não se interessa pelo significado das poéticas mas tão só pela sua produtividade. Entropia designaria a quantidade de informação, mediria a ordem/desordem segundo a qual uma mensagem é ordenada (Eco, 2009: 128). Segue Norbert Wiener, o investigador da cibernética (máquinas inteligentes), para quem o conteúdo informativo de uma mensagem é dado pelo seu grau de organização.

Mais explícito ainda: a teoria da informação estuda a transmissão das mensagens e considera-as como sistemas organizados com muita abundância de probabilidades fixas, a redundância, garantia da possibilidade da equiprobabilidade, probabilidade de uma ocorrência num ou noutro sentido. Mas não se preocupa com o significado, não faz a ligação entre informação e significado (2009: 133). Parece estranha esta postura em Eco; ele que trabalhou sempre o território do significado parece encantado com esta posição neutra de Wiener. Talvez a página seguinte explique melhor o seu intento: para além do significado, a arte e a palavra poética apresentam-se numa relação nova de sons e conceitos e palavras e frases. Wolf (1987: 102) segue a mesma rota: o código e a teoria da informação são um sistema sintáctivo que não contempla o problema do significado da mensagem. E afirma que entre duas acepções de comunicação - transferência de informação entre dois pólos e transformação de um sistema noutro - a teoria da informação prefere a primeira (Wolf, 1987: 103). A desorganização dentro de um sistema de probabilidades é um acréscimo de informação (Eco, 2009: 135). Num sistema de alta entropia o valor da informação é altíssimo. Mas terá significado? Dúvidas: quanto maior a informação mais difícil a sua comunicação; quanto mais a mensagem comunica de modo mais claro menos informa (Eco, 2009: 138).

À luz da teoria da informação, como funcionam o SMS e o Twitter?

Observação: pela forma como faço as referências aos dois autores, depreende-se que a mensagem segue de muito perto os textos daqueles escritores.

Leituras: Mauro Wolf (1987). Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1ª edição
Umberto Eco (2009). A Obra Aberta. Lisboa: Difel, 2ª edição

Sobre a mesma matéria ver aqui, aqui e aqui.



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