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TEORIA FUNCIONALISTA

Interacção

Afastado o receio da teoria dos efeitos ilimitados, em décadas anteriores, em que se julgava que a mensagem atingia completamente o receptor ou audiência, equacionava-se o efeito limitado da mensagem dos meios de massa sobre a audiência. Contudo, a expansão da televisão - que começou a sua época de ouro nos Estados Unidos nos anos 50 - fazia abandonar a ideia de considerar o meio electrónico como instrumento de formação, educação e informação, mas acentuava o espectro da influência negativa, como autismo, dependência e delinquência.

Sucederam-se investigações para aprofundar a questão. Um dos autores com maior notoriedade seria Wilbur Schramm, ligado à universidade de Stanford. Em 1961, após três anos de investigação bem financiada, em que entrevistou seis mil crianças e dois mil pais, publicou resultados. O contributo de Schramm e do grupo de Stanford a si associado salientaria a interacção entre a televisão e os tespectadores. Isto é: a televisão seria perigosa para uns e benéfica para outros, o que não adiantou muito, portanto. E o conceito de interacção do meio com a audiência, apesar de promissor, ainda não estava suficientemente verificado no terreno.

Análise funcional

Dentro da ideia de interacção, de que Schramm foi um dos agentes, Robert Merton definiria como análise funcional a sociedade vista enquanto sistema que tende para o equilíbrio. A sociedade constitui um sistema, composto de subsistemas funcionais, que se propõem resolver problemas no seu interior. Ao invés, uma actividade (social, por exemplo) desempenha uma parcela no conjunto do sistema. Resumindo: a sociedade consiste em conjuntos complexos cujas actividades parcelares se interrelacionam, umas apoiadas nas outras. Merton publicou textos importantes como Social theory and social structure (1949) e On theoretical sociology (1967). Nele, um sistema diz-se funcional se a prática contribui para manter essa estrutura, ao passo que disfuncional é uma prática de ruptura. Além disso, distingue funções manifestas (visíveis) e latentes (não intencionais e difíceis de observar).

Estava-se já longe da perpectiva de influência imediata, da relação estímulo/resposta, e entrava-se numa investigação que atendia aos contextos e à interacção social dos receptores. O destinatário deixava de ser receptor passivo e passava a ser sujeito activo comunicativo.

Hipótese dos usos e gratificações

A teoria dos usos e gratificações insere-se em tal lógica: há influência social se um grupo social tem um interesse e se relaciona com o interesse de outro grupo. Mauro Wolf (Teorias da comunicação) analisou esta teoria. Para ele, as funções dos media são: 1) fornecer informação; 2) fornecer interpretação; 3) exprimir valores culturais e simbólicos; 4) fornecer entretenimento. Os media podem reforçar a posição social dos seus leitores e reforçar as normas sociais. Considera ainda Wolf que a hipótese dos usos e gratificações explica o consumo e os efeitos dos meios de comunicação de massa em função das motivações e das vantagens recebidas pelo destinatário.

Credita-se a Herta Herzog, antiga colaboradora de Lazarsfeld, a designação dos usos e gratificações. Num artigo seu, publicado em 1944, ela analisou o trabalho que fez junto de ouvintes de radionovelas. Mais do que medir a influência exercida pelas novelas transmitidas pela rádio, Herzog quis conhecer as razões e experiências destas fãs, os seus usos e gratificações. E descobriu que as mulheres que ouviam as novelas o faziam por: 1) prazer emocional; 2) oportunidade para pensar de modo inteligente; 3) aconselhamento.

Leituras: Mauro Wolf (1987). Teorias da comunicação. Lisboa: Presença

Stanley J. Baran e Dennis K. Davis (2003). Mass communication theory. Foundations, ferment, and future. Belmont: Thompson, 3ª ed.



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