Coisas e Coisas
ARTE DIGITAL E CIBERNÉTICA
História. O nascimento da arte digital (então chamada arte por computador) ocorreu na exposição londrina
Cybernetic serendipity (1968). A produção desses anos inspirar-se-ia bastante na abstracção geométrica. O aparecimento da imagem animada e de terceira dimensão (3D), no começo dos anos 1980, trouxe o cinema de animação e dos efeitos especiais e a vantagem suplementar sobre as duas dimensões – o volume. Construíam-se objectos por síntese, a partir de cálculos, com base em objectos reais, com realce para o filme de Steven Spielberg,
Parque Jurássico (1993).
Já nos anos 1990, assistiu-se ao desenvolvimento acelerado da interactividade com a realidade virtual e os seus derivados, o multimedia e as redes digitais de comunicação, em que as trocas de informação entre o homem e o computador se fazem em tempo real e transitam nos dois sentidos. As imagens digitais apresentam, assim, duas características comuns: os cálculos automáticos feitos em computador e a interactividade entre quem os cria e quem é destinatário. Relação entre arte e ciência. São relações muito antigas, que remontam à pré-história ou ao Renascimento, para não sermos mais exigentes. Depois, na segunda metade do séc. XX, multiplicaram-se as referências à ciência: as matemáticas e a lógica inspiraram os minimalistas (métodos seriais e combinatórios), a óptica e a psicologia da percepção serviram de apoio à op art e à arte cinética, e a linguística estruturalista alimentou a arte conceptual.
No dobrar dos anos 1960, uma nova ciência impressionou os artistas – a cibernética, definida pela fórmula de Norbert Wiener como a ciência do controlo e da comunicação no animal e na máquina. Abraham Moles fundou a sua estética sobre a teoria da informação e Umberto Eco prolongava as suas teses ao desenvolver a teoria da obra aberta. Mais perto de nós, os temas do híbrido, do genético, do informacional e do artificial estão no centro de muitos dos trabalhos da arte digital.
Cibernética. Parece haver um regresso aos objectivos iniciais da cibernética – simular comportamentos e percepções, tipo de inteligência próxima do homem. Há uma evolução da interactividade: o computador produz objectos virtuais que não se comportam como simples coisas mas como seres artificiais dotados de alguma sensibilidade. A interactividade segue a evolução da cibernética.
Enquanto a primeira cibernética se interrogava sobre as noções de controlo e de comunicação (no animal e na máquina) e da informação, a segunda cibernética interroga-se sobre as noções de auto-organização, estruturas emergentes, redes, adaptação e evolução. Enquanto a primeira interactividade se interessava pelas relações entre computador e homem sobre o modelo estímulo-resposta ou acção-reacção, a segunda interactividade debruça-se sobre a acção conduzida pela percepção, corporização e processos sensoriais e motores. Se a interactividade no modo estímulo-resposta assentava sobre as relações tradicionais de autor, obra e espectador, a introdução de uma lógica de autonomia tornou estas relações mais complexas e profundas.
Leitura de: Edmond Couchot e Norbert Hillaire (2003).
L’art numérique. Comment la technologie vient au monde de l’art. Paris: Flammarion.
loading...
-
Teoria Da InformaÇÃo
No seu livro Teorias da Comunicação, Mauro Wolf (1987: 98) indica que a teoria da informação nasce nos trabalhos de engenharia das telecomunicações. Shannon, em 1948, considerou a teoria da informação como teoria do rendimento informacional, destinada...
-
Uma Perspectiva Importante: O Pensamento De Miège (i)
La pensée communicationnelle é um livro de Bernard Miège, já com dez anos de edição. O que se segue é uma síntese do texto do professor de Grenoble, dividido em quatro mensagens, fundamental para quem estuda teorias da comunicação e pretende...
-
NOTAS SOBRE OS CONCEITOS DE SISTEMA E DE INTERACÇÃO Sistema A partir do séc. XVIII, dava-se o reconhecimento de sistemas na natureza: combinações químicas; funções e relações das partes de um corpo vivo. Já no séc. XX, Bertallanfy considerava...
-
NORBERT WIENER E A CIBERNÉTICA No livro Cibernética e sociedade. O uso humano de seres humanos, Wiener descreve máquinas que se sucederam ao longo da actividade industrial do homem: máquina a vapor, barco fluvial a vapor, máquinas das fábricas de...
-
Belezas Digitais
Tem-se registado, nas duas últimas décadas, um enorme desenvolvimento nas capacidades digitais, que incluem as interfaces gráficas, a produção de ilustrações, a arte, a publicidade e o design. Não foi a forma de criação em si que mudou, mas...
Coisas e Coisas