Somos um caso perdido?
Coisas e Coisas

Somos um caso perdido?


Um novo delírio de Duda Rangel: uma tarde qualquer na sede da Associação dos Jornalistas que Amam Demais a Profissão.

Olá, boa tarde a todos. Meu nome é Teodoro Alencar ou Téo Alencar, como eu costumo assinar as minhas matérias. Aliás, adoro assinar matérias. Bem, esta é a minha primeira vez aqui. Foi um pouco difícil tomar coragem para vir. Eu acho que sou viciado em jornalismo. Eu vivo jornalismo 24 horas por dia. Eu almoço e janto jornalismo. É como se tudo ao meu redor fosse notícia quente o tempo todo. Não consigo parar, me desligar. Minha mulher vive reclamando. “Homem de Deus, por que você não nasceu com o vício do Michael Douglas ou do Tiger Woods?”, ela pergunta. Mas não nasci. Às vezes, eu penso em largar tudo, sei lá, abrir uma pousada em Itacaré ou em Búzios, mas não seria feliz. Morro de medo de, sem o jornalismo, ficar louco, começar a comer pilhas, entendem? Desde que eu fiquei conhecendo o trabalho aqui, me interessei. Queria contar a minha história e conhecer histórias semelhantes de outros jornalistas. Penso até, no futuro, em escrever um livro-reportagem sobre tudo isso. Mas prometo que não cito os nomes de vocês. Podem confiar!

Boa tarde, aos que não me conhecem eu sou a Carol Fonseca. Fiz questão de vir aqui hoje porque preciso compartilhar uma coisa bem legal com todos. Faz um mês que eu não escrevo uma matéria jornalística!!! Tô limpa, gente, tô limpa! (Muitos aplausos). Obrigada! Mas foi difícil, porque, além do trabalho, eu sempre pegava um frila aqui, outro ali. Tudo escondido, claro. Meu namorado, que mora comigo e é fiscal da Receita, perguntava o que eu estava fazendo até tarde da noite em frente ao computador. Ele só ficava sossegado depois que eu mentia. Dizia que estava apenas vendo fotos de homens nus na internet. O jornalismo, quero dizer, o jornalismo em excesso quase acabou com o meu relacionamento. E, como eu sempre fui muito intensa e nunca consegui impor limites para mim, tive de abandonar tudo. Foi muito difícil. (Lágrimas). Mas eu estou bem, gente, hoje estou bem. É sério. Meus amigos também me ajudaram muito, pararam de ligar para oferecer frilas. Eu também parei de ler jornal, ver os telejornais. Vocês acreditam que só ontem eu fiquei sabendo que o Ricky Martin saiu do armário?

Olá. Meu nome é Carlos Eduardo, Duda, Duda Rangel. Esta também é a primeira vez que eu visito a associação. Para falar a verdade e sem querer ofender ninguém, eu não acredito muito neste tipo de ajuda, mas eu estava precisando fazer alguma coisa diferente nas minhas tardes. Estar desempregado e não ter uma TV por assinatura é muito cruel. Mas, enfim, já que eu estou aqui, vamos aos fatos. Meu drama é que, mesmo desempregado, eu não consigo buscar outro tipo de trabalho. Um tempo atrás, um amigo tentou me convencer a virar consultor de vendas, vendedor, de uma marca de filtros de água, mas eu não consegui aceitar a idéia. Ele até falou que tinha uma comissão legal. Quase junto com a perda do meu emprego, eu também perdi a minha mulher. A merda, desculpem a palavra, é que eu sempre senti mais falta da redação do que dela. Tudo bem que a separação foi litigiosa, rolou um ódio grande pela “ex” na época, porque ela me trocou por um moleque de 20 anos. Mas, voltando ao jornalismo, acho que é isso: eu amo demais esta profissão. É meio doentio. Pagam mal, você trabalha pra caramba e, ainda assim, eu gosto. Alguém aqui pode me dizer se sou um caso perdido? (Longo silêncio). Tenho cura? (Mais silêncio). Muito obrigado mesmo pela ajuda! Acho melhor eu voltar para casa já para ver a Sônia Abrão!

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