Jornalista ganha mal de uma forma geral. Entre todos, os repórteres de rádio são talvez os que mais têm medo de olhar a conta bancária no fim do mês. Com exceção dos fodões da área, a maioria trabalha muito e recebe pouco. Orlando César, por exemplo, nunca foi um fodão. Sempre viveu nos campos de futebol, com microfone em punho, roupa surrada, barrigão de cerveja e óculos remendados com fita isolante. No interior, onde começou a carreira, aprendeu que, para fazer o que gosta e sobreviver, era preciso muito jogo de cintura.
Mais experiente e já na capital, Orlandão, como era conhecido, decidiu que viraria um outdoor ambulante para ganhar uns trocados a mais. No começo, arrendou apenas a cabeça – usava um boné com o nome de um patrocinador. Estava sempre à vista de alguma câmera de televisão. Ficava atrás do entrevistado, em busca dos holofotes. Aos poucos, alugou sua camisa. Diziam que ele até engordou apenas para prospectar novos anunciantes.
“Você é um papagaio de pirata”, brincavam os colegas de jornal impresso e TV. “Não são vocês que pagam as contas lá de casa”, respondia Orlandão, com seu jeito rude, mas bem-humorado. Ele gostava dos clássicos, das grandes finais. Justificava que ser a sombra das estrelas era a garantia do leitinho das crianças. Foi garoto-propaganda de cachaça, loja de tinta, material de construção, oficina mecânica. Fez até campanha política.
O ápice de sua carreira foi trabalhar em uma copa do mundo. Em 98, desfilou por Paris com seu boné da Caninha Barrosinho. Na final, furou a segurança na zona mista de entrevistas e chegou a encoxar o craque Zidane. Como não falava francês, não entendeu nenhuma palavra que o carrasco do Brasil disse, mas apareceu em alguns jornais deste mundo. Foi a internacionalização da Barrosinho. Ganhou até um bônus por isso.
Hoje, com mais de 25 anos de profissão, Orlandão celebra a volta de Ronaldo ao futebol brasileiro. Se o jogador fará sucesso, não importa. O que interessa é que o Fenômeno será decisivo para ele terminar a reforma de seu sobrado.