O teeeempo passa...
Coisas e Coisas

O teeeempo passa...


O moleque vivia na roça. O pai não tinha dinheiro para comprar sequer uma TV em preto-e-branco. Mas não foi essa relação íntima com a pobreza que o fez escolher, anos mais tarde, a profissão de jornalista. Foi o rádio velho e cheio de ruídos do pai. Ouviam juntos, nas tardes de domingo, o jogo do time de coração narrado pelo Fiori Giglioti. Toda vez que o locutor dizia “abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”, a imaginação do menino viajava até o estádio.

Um amigo da escola disse a ele que jogo de futebol de verdade era uma pasmaceira só, que não tinha toda aquela emoção que se ouvia no rádio. A bola estava bem longe da grande área, mas a sensação, no rádio, é que o gol estava prestes a sair.

- E como ele sabe disso?, retrucou o pai. Seu amigo nunca foi a um estádio. Nem ele, nem o mentiroso do pai dele.

O menino seguiu encantado pelo futebol no rádio e narrava tudo a seu redor. “Crepúsculo da janta, torcida brasileira. Lá vem a mamãe pela direita com a sobremesa, passou por um, driblou o papai e chegou até a mesa”.

- Pai, manda esse moleque calar a boca que eu não agüento mais, dizia o irmão mais velho.

De tanto ouvir o Fiori no rádio, ele decidiu que também seria locutor esportivo. Aos 15 anos, começou a trabalhar na emissora da cidade, na nobre função de entregador de correspondências. Mas era perseverante. No ano seguinte, já servia o cafezinho. Aos 22, foi trabalhar na rádio da cidade vizinha, maior e mais importante, que cobria todos os jogos do time local. Já era jornalista formado.

Um dia, o locutor titular da rádio ficou sem voz. Passou a noite xingando o cachorro do vizinho que não parava de latir. E ele teve a grande chance de fazer sua estréia. Seguiu para o estádio agitado. No caminho, se lembrou do Fiori e das tardes de domingo de sua infância ao lado do pai. O velho, com certeza, estaria ouvindo sua voz, onde quer que ele estivesse naquele momento.

O juiz apitou e ele colocou toda a emoção do mundo na sua narração. O dia mais feliz de sua vida. Mas não foi nada fácil o trabalho. O jogo foi uma pasmaceira só.

Leia também: “Outdoor ambulante”



loading...

- Paixões Proibidas
Quando eu tinha uns 15 anos, costumava passar os dias quentes de verão dentro de casa, ouvindo o meu LP dos Smiths. Meu pai, com medo de ver o filho se tornar um garoto muito introspectivo, talvez com alguma tendência suicida, resolveu dar um conselho....

- Memórias Em Torno Da História Da Rádio
Do livro de José Maria Pinto de Almeida (50 Anos de Rádio em Angola, p. 107, pp. 112-113), retiro o seguinte: 1) "Estive lá [Angola, um reino mágico como Camelot ou a Atlântida] uma dúzia de anos fabulosos. Lá casei e conheci gente fantástica....

- Relatadores De Futebol
O relatador de futebol não é como o cantor de ópera, mas tem de aguentar 90 minutos a relatar o jogo com voz imponente. Não é escritor ou poeta mas elabora expressões de forte densidade e emoção. No jogo de ontem, entre Benfica e Porto, o...

- Morte De Artur Agostinho
Morreu hoje o jornalista, locutor e actor Artur Agostinho, ligado à rádio, à televisão, ao desporto e ao futebol em particular (Público) enquanto relatador. Tinha 90 anos. [actualizado às 19:50 com base nas notícias publicadas nas páginas...

-
BLOGUES E COMENTÁRIOS Um blogueiro anda (ou deve andar) sempre atento ao que a blogosfera produz. E sugerir visitas a outros blogues. Por questão de fidelidades e de escolha muito apertada [não selectiva mas apenas apertada], coloquei aqui na coluna...



Coisas e Coisas








.