O sanatório – parte 1
Coisas e Coisas

O sanatório – parte 1


Quando soube que um velho amigo estava em um sanatório numa cidade do interior, em uma ala específica para jornalistas, decidi visitá-lo. Sim, havia uma ala específica para jornalistas. A viagem de trem, que subiu uma serra para chegar à clínica, foi lenta. O sanatório ficava nas montanhas, perdido no meio do nada. E era triste, como não poderia deixar de ser. Meu amigo dormia e tive a permissão para esperá-lo no pátio, onde outros jornalistas loucos estavam, tomando um resto de sol, caminhando, falando sozinho.

Notei um homem de barba e cabelos longos sentado no chão. Embora devesse receber cuidados, estava em um estado deplorável. Lembrava um mendigo. Pegava sujeira dos cabelos e colocava na boca. Me olhava de um jeito agressivo. Foi então que um outro maluco, com uma aparência até elegante, aproximou-se. Sorriu, sentou-se ao meu lado e puxou assunto. Logo de cara disse que não era louco, que não deveria estar ali.

- Fui um dos jornalistas mais premiados de minha geração, sabia? Ganhei prêmios Esso e outros mais. Pode perguntar a qualquer um aqui. Sou o mais respeitado dessa espelunca.

Meu amigo ainda dormia. Será que recebeu uma dose cavalar de sedativo? O premiado jornalista, que se apresentou como Ernesto, não parava de falar, de contar suas glórias, sua trajetória de sucesso. Um enfermeiro me chamou para entrar. Finalmente.

- Nossa, o Ernesto fala demais, brinquei com o enfermeiro. Me contou todos os seus prêmios, falou das cerimônias de entrega, dos discursos de agradecimento...

- O Ernesto nunca ganhou prêmio, doutor, respondeu o enfermeiro. Aqui, tem um monte de ex-jornalista que nunca ganhou nada, mas fala que ganhou. Eram obcecados por isso.

Ri, meio sem graça.

- O único que ganhou um Esso aqui foi aquele sentado no chão – e apontou para o louco com a aparência deplorável, o que parecia um mendigo. Foi um fotógrafo e tanto, mas a cocaína acabou com ele. Perdeu família, dinheiro, o juízo, e acabou aqui, abandonado.

Suspirei. E voltei o meu olhar novamente ao homem que comia sujeiras do cabelo.

- Vamos lá, doutor, prosseguiu o enfermeiro. Seu amigo já acordou.

Continua no próximo post...



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