Coisas e Coisas
S.O.S. Jornalista
A rotina do jornalista é dura, cheia de apertos. Tudo seria mais simples se pudéssemos nos agarrar a remédios que resolvessem, de forma mágica, os nossos dramas. Mas, com exceção da vida de BBB, que não faz porra nenhuma o dia inteiro, nada é fácil em nossa existência terrena. Qualquer ajuda milagrosa seria surreal.
Sim, jornalista, você pode mudar a sua vida!Um escritor qualquer de livros de auto-ajuda poderia, tranqüilamente, criar palestras motivacionais com foco específico nos jornalistas: “Você está sem perspectiva de crescimento na carreira? Acha que vai ficar 20 anos fazendo a mesma coisa na redação? Não desanime. O sucesso depende só de você!”. Ou “Você ainda quer ser um famoso apresentador de TV e dar autógrafos na rua? Acredite no seu sonho!”. Os jornalistas também poderiam participar de atividades em grupo, aquele lance da troca de energia, mentalização coletiva.
– Isso mesmo, se abracem, sintam as vibrações positivas, pensem que vocês estão recebendo um prêmio Esso, uma promoção do editor. O desejo de vocês vai se transformar em realidade.
– Professor, posso mentalizar também meu discurso de agradecimento pelo prêmio Esso?
Sai, capeta!Alguém com nobres ideais religiosos poderia fundar a Igreja Nacional do Jornalista Desgraçado e promover o encontro dos 308 repórteres desempregados, em vigília por um frila urgente para pagar as contas em atraso. Mas a cereja do bolo seriam as sessões de descarrego. A igreja atenderia o fiel dominado pelas forças do mal. Aquele cara que, em uma semana, tomou dois furos da concorrência, não foi escalado para a principal cobertura do caderno no ano, perdeu a folga do fim de semana e ainda descobriu que não teria mais o aumento de salário prometido. Tanta coisa ruim junta só pode ser encosto.
– Desaloja, satanás, sai do corpo deste nosso irmão!!!
– Pastor, o senhor poderia também desalojar o meu chefe de reportagem?
Ouvido amigo
Existem alguns casos bem graves, de desesperança total. São profissionais que chegaram ao fundo do poço e pensam em deixar a vida terrena, cortando os pulsos ou fazendo uma matéria sobre a derrota da Gaviões da Fiel no carnaval paulistano com a camisa do Palmeiras. A salvação poderia vir por meio de uma central de atendimento por telefone, espécie de CVV, com voluntários altamente capacitados para lidar com depressivos da imprensa.
– Por favor, eu preciso de ajuda, acho que nunca serei um jornalista. Me considero um bosta. Não sei escrever, não sei fazer uma entrevista, não consigo arranjar um emprego decente. Até meu diploma não vale mais nada.
– Calma, meu amigo, o jornalismo não é tudo na vida. O senhor já pensou em fazer gastronomia?
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