Coisas e Coisas
O PODER DOS MEDIA (2)
Philip French, crítico de cinema do Observer, fala do seu amor de 70 anos por aquela arte visual (e indústria cultural).
O primeiro filme que ele se recorda de ter visto foi num sábado de 1937, já andava na escola em Leicester. French lembra-se dos pais estarem a falar de filmes, o que o intrigara. O pai era agente de seguros e não concordaria com Double Indemnity, de Billy Wilder, que se tornou um dos filmes favoritos de French quando este tinha 10 anos de idade.
Muitos anos mais tarde entrou no Observer como segundo crítico de cinema (deputy film critic). Estava-se em 1962. A permanência inicial naquele jornal acabou por ser curta, indo em 1967 para a London Magazine, de onde transitou para o Times e a BBC. Regressou ao Observer em 1977, onde permanece até hoje, o que significa uma longa permanência naquele jornal. Ainda bem que os ingleses são conservadores. Em Portugal, críticos, comentadores e simples colunistas permanecem pouco tempo, apesar do tempo que se julga estarem lá. French já viu 14 mil filmes. O trabalho nos anos de 1960 e 1970 era mais simples do que hoje. Então, estreavam três a quatro filmes por semana, agora são de sete a onze, sem contar com os pré-lançamentos das versões domésticas em DVD. Os críticos mais jovens nasceram noutro ambiente social e cultural: televisão, livros especializados, wikipedia e DVD. Mas enfrentam outras dificuldades: habituação à violência e erotismo, além da linguagem usada nos diálogos (prefiro não traduzir: no-expletive-deleted dialogue). Finalmente, French acredita trer contribuido para a carreira de realizadores e artistas, como Martin Scorsese, Stephen Frears, Walter Hill, Terence Davis, Christopher Nolan e muitos outros.
O Observer dedica quatro (4) páginas ao seu crítico, que irá receber um prémio (sócio honorário) no próximo dia 21 (BAFTA Honorary Life Membership). Além de um texto sobre a vida do crítico, há tributos de realizadores, outros críticos e muitos amigos. Assim, vale a pena viver.
Espero que o Público faça, quando chegar a altura, uma homenagem ao crítico de cinema e escritor João Benard da Costa (já não vejo as suas crónicas ao domingo; perdi algum detalhe?).
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