Coisas e Coisas


SOBRE A GENEROSIDADE DOS CRÍTICOS DE CINEMA

Parto do princípio simples que os críticos de cinema são elementos fundamentais na formação (e aconselhamento) dos públicos de cinema. Com frequência, recorro a eles para a decisão da escolha do filme a ver. Isto porque tenho deles, os críticos de cinema em geral, a consideração de que são indivíduos - apenas homens nos três casos que analisei - capazes de olhar o produto filme e desconstruir para o espectador as tramas narrativas e fazer as análises sociológicas, psicológicas e semióticas que interessam.

As estrelinhas (ou bolinhas) que cada um dos críticos de cinema colocam à frente dos filmes são, assim, instrumentos preciosos de estudo. Mas persiste uma questão: onde acaba a objectividade e começa a subjectividade da interpretação e da opção do crítico? Eu, enquanto professor, sinto esse dilema. O momento mais difícil (e menos compreendido pelos alunos) de um semestre lectivo é quando atribuo classificações. Faço uma grelha de elementos a ponderar, mas fica sempre um travo de subjectividade, que inclui a disposição emocional do momento da avaliação.

Isto a propósito de dois filmes. Procurei nas classificações dos suplementos do Público ("Y"), Diário de Notícias ("6ª") e Expresso ("Actual") - edições de ontem e hoje - e tentei confrontar posições. O primeiro, de Manoel de Oliveira, Espelho mágico, que já vi e gostei muito. O mais forreta é o Diário de Notícias (uma bolinha de Eurico de Barros e duas de Pedro Mexia), o mais generoso é o Expresso (quatro estrelinhas de Francisco Ferreira e cinco de Cintra Ferreira). O segundo, de Jia Zhang-Ke, O Mundo, que igualmente vi e apreciei muito. O Público coloca-o a meio da tabela das apreciações: três bolinhas segundo três críticos (Luís Miguel Oliveira, Mário Jorge Torres e Vasco Câmara). Já o Expresso exprime tendências opostas quanto à avaliação: das duas estrelinhas de Leitão de Barros às quatro estrelinhas de Cintra Ferreira.


Os críticos mais generosos em classificações são Cintra Ferreira (Expresso) e João Lopes (Diário de Notícias), ao passo que os mais forretas são dois críticos do Público (Vasco Câmara e Mário Jorge Torres) [exclui as observações de péssimo]. Os críticos do Expresso são os que vêem mais filmes (seis a dez), os mais regulares os do Diário de Notícias (três críticos viram oito filmes cada e apenas um viu somente cinco filmes), ao passo que os do Público analisaram menos filmes no conjunto dos três jornais.

Pergunta do espectador que se serve das críticas para escolher um filme: cada um dos críticos não pode revelar que critérios usa para dar estrelinhas e bolinhas?






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