O nosso pasquim
Coisas e Coisas

O nosso pasquim


Uma das experiências mais divertidas que tive na faculdade foi quando criei, ao lado de alguns amigos, um jornal sobre minha turma do curso de jornalismo. Nossa linha editorial era sacanear geral e ter a liberdade de criticar, com humor e ironia, o que a gente achava que não caminhava bem. Os deslizes dos professores, as aulas insuportáveis, os defeitos de nossos colegas e, acreditem, de nós mesmos. Minha inspiração vinha da leitura de O Planeta Diário e das antigas edições de O Pasquim. Não ganhávamos um puto por isso, mas éramos felizes.

Ganhamos, na verdade, a oportunidade de aprender, na prática e por conta própria, o que é fazer jornalismo. Com muita improvisação, cuidávamos de todo o processo de criação, da pauta até a distribuição do jornal aos leitores, nossos amigos de curso. A diagramação era precária, feita com colagens em papel sulfite. As impressões não tinham cores. Nossa redação era flutuante – a mesa do bar ou até mesmo o fundão da sala de aula. Eu gostava das reuniões de pauta, regadas a cerveja e gargalhadas, um grandioso brainstorm de merdas.

A gente escrevia o que dava vontade. Não tinha rabo preso com ninguém. Certa vez, fizemos, com foto-montagem, um provocante ensaio sensual da professora de Sociologia, uma italiana chata de mais de 60 anos. Em outra, num trabalho de jornalismo erótico-investigativo, revelamos as perversões secretas do diretor da faculdade. Os bastidores sórdidos das festinhas das repúblicas de alunos também eram pauta certa. Tudo escrito com muita irreverência e criatividade, é claro.

Conquistamos fãs, que esperavam ansiosamente a impressão da edição seguinte, sem prazo definido para sair. O compromisso com os leitores nunca foi nosso forte. A periodicidade do jornal era a “sai quando der”. Conquistamos também desafetos entre a turma e olhares atravessados de alguns professores. Tudo bem que, às vezes, nossas palavras eram assustadoramente ácidas, mas, no geral, o pessoal levava aquilo numa boa.

Por mais que a realidade de um jornal de faculdade, feito por amigos, seja bem diferente da encontrada no mercado de trabalho, esta experiência empreendedora é fascinante. Acho que todos os estudantes de jornalismo deveriam criar as suas publicações, aproveitando as facilidades das novas tecnologias e o incontrolável desejo de jogar bosta no ventilador. O humor e a ironia nunca saem de moda e são formas inteligentes de denunciar as cagadas do homem. Vale a pena tentar!



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