Coisas e Coisas
Luís Lupi sobre António Ferro e a Emissora Nacional
A família de Luís Caldeira Lupi, nascido em Lisboa em 1901, foi viver para Moçambique ainda ele era criança. Politicamente, Lupi foi partidário das ideias do rei D. Miguel I e de Sidónio Pais, depois partidário das ideias de Salazar e muito próximo de Américo Tomás, mas teve os seus problemas com o regime.
Luis Lupi foi agrimensor em Moçambique mas o jornalismo atraiu-o quando era muito jovem, o que o levou a tornar-se correspondente do jornal londrino
African World. Por essa altura, já pensava na criação da agência Lusitânia, autorizada quando Marcelo Caetano foi a ministro da Presidência. Luís Lupi regressou a Lisboa em 1928. Entre outras coisas, ele foi diretor do semanário
Portuguese Time, publicado em Lisboa mas em inglês, em 1935 - e que durou apenas oito semanas. No terceiro volume das suas Memórias, na entrada do dia 9 de novembro de 1944, ele escrevia que estava bem encaminhado o estabelecimento da agência portuguesa que ele vinha pugnado há tantos anos, de modo a estabelecer uma ligação forte entre as colónias (Ultramar na linguagem dele) e Portugal (Metrópole na linguagem dele). Seria director da Associated Press em Portugal [ver mais elementos da sua biografia em Lupi].
Uma das personagens por quem não morria de amores era António Ferro. A 15 de agosto de 1935, ele registava no seu diário a festa de aniversário de Nita (a sua mulher Mariana Lupi, cantora lírica) e a conversa com os íntimos da família sobre a palestra que ele proferira sobre turismo na semana inaugural da Emissora Nacional, uma semana antes. Alguém ironicamente perguntou se o convite partira de Ferro. Ele deu um categórico não. Quem o convidara fora Henrique Galvão, "que andava em picuínhas com o Ferro, por ciumeiras dos favores do Doutor Salazar". O Lupi das barbas haveria de sobreviver aos dois, com um telefone direto ao ditador. Ferro caíra em desgraça e foi feito embaixador na Europa, Galvão desviou o paquete Santa Maria, contra Salazar. Curiosamente, Lupi fizera a viagem inaugural do navio junto ao então ministro da Marinha, Américo Tomás. Mas a morte deste também significou a sua decadência.
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