Coisas e Coisas
DISCOS E INDÚSTRIA FONOGRÁFICA EM PORTUGAL
A 9 de Dezembro de 2006 escrevi aqui sobre uma conferência de António Tilly, onde ele falou da indústria fonográfica nacional. Deixei no blogue a seguinte impressão, entre outras:
- Para ele [Tilly], o primeiro grande produtor de fonogramas [creio que directa ou indirectamente, aqui enquanto cliente] foi a estação pública de rádio, a Emissora Nacional. Dos anos de 1930 a 1950, tudo terá girado à volta da Emissora. A televisão aparece como um segundo grande cliente a seguir à rádio. Entretanto, surgiam as primeiras empresas de discos, nomeadamente a Valentim de Carvalho (em Lisboa) e a Arnaldo Trindade (no Porto), enquanto outras editoras discográficas, de dimensão reduzida, entram também no negócio de gravar e distribuir discos.
Agora, surge possibilidades de rever o que se disse então, olhando a exposição que António Tilly e João Carlos Callixto organizaram no Museu da Música, com o título No tempo do gira-discos. Fui desperto para esta exposição pelo magnífico texto que Joana Amaral Cardoso escreveu no "Ípsilon" (Público) de 18 de Maio último.
A exposição consiste em painéis explicativos da produção industrial da música (ligeira, de intervenção, pós-1974), alguns dos seus intérpretes e empresas, bem como poetas, orquestradores e técnicos, com um fundo de compreensão histórica e social. Em vitrinas, observam-se capas de discos, dos EPs aos álbuns, onde é possível ver temas, grafismos e adivinhar as correntes estéticas contidas nessas músicas.Mais precisamente, o que se vê são duas épocas bem definidas: antes e depois de 1974, com as suas estéticas específicas. Fora do país fervilhavam outras ideias: ié-ié, movimento hippie, punk; dentro do país, empregavam-se os sintetizadores, a gravação multipistas, o Festival da Canção.
Passava-se de António Calvário e Tonicha para os Sheiks, José Cid e os 1111, a Filarmónica Fraude, poemas de Ary dos Santos e Joaquim Pessoa. Ao lado de arranjos e orquestrações, como as versões dos Thilo's Combo, retiro do texto da jornalista. Depois, revelavam-se Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, José Mário Branco. No final dos anos 1970, a música ligeira reaparecia com Manuela Bravo e Marco Paulo, suplantando as guitarras eléctricas, socorro-me de novo do texto da jornalista. Já nos anos 1980, dava-se o boom da música moderna, caso de Rui Veloso.
Da exposição fica um amargo. Não há sons no ar, apenas os painéis e as capas dos discos. Nem se vê um só vinil. É certo que ver um disco não é muito importante, mas dá ideia aos visitantes mais novos perceber como era a música de então, como se deve ser pedagógico ao mostrar um frango vivo e não apenas fiambre de frango. As formas e as experiências contam.
Do mesmo modo, não há um papel, um desdobrável, uma memória para trazer. Uma exposição assim não deixa rasto, apaga-se após a visualização de outra. E este é um tema que merece ser estudado e discutido. Do mesmo modo que a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, há muito tempo a editar pelo Círculo de Leitores. Portugal não merece a sua rápida publicação?
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