Coisas e Coisas
Censura discográfica (18)
26.4.1974, assinado pelo director de Serviços de Programas da Emissora Nacional, Alberto Represas: "Conforme orientação superior não devem ser feitas restrições na inclusão em programa de quaisquer discos que se encontram nesses arquivos. Os respectivos ficheiros deverão ser normalizados de acordo com a referida orientação. Os discos a adquirir não deverão ser objecto de qualquer exame prévio".
"Por decisão superior, venho informar de que foram retirados ou considerados inconvenientes para aquisição os seguintes discos ou faixas, que portanto não deverão ser transmitidos [a frase não parece bem articulada]: Duas Melodias, de Luís Cília (Chant du Monde); O Preto no Branco, de Tonicha (Zip Zip)".
Estas duas ordens contraditórias indicam o modo como se terá vivido dentro da Emissora Nacional naqueles primeiros dias após a mudança de regime político. Uma ordem proibia, a outra permitia a transmissão de uma longa lista de discos ou músicas até aí proibidos. Possivelmente, a ordem que coloquei em primeiro lugar seria posterior à segunda. José Afonso, José Mário Branco e outros músicos e, sobretudo, os poemas de Manuel Alegre ouviam-se finalmente na rádio pública.
Alberto Represas entrou na Emissora Nacional na década de 1940 com a função de locutor. Mais tarde, com a conclusão da licenciatura em Ciências Económicas e Financeiras, ocupou lugares de direcção da estação pública. Em 1974, saiu na purga de antigos dirigentes da estação, nunca sendo reintegrado. O outro dirigente saneado e nunca reintegrado foi Clemente Rogeiro, director dos serviços administrativos e, mais tarde, presidente da Emissora Nacional. Antes, Rogeiro estivera na Previdência Social, fora director-geral da Informação e procurador adjunto do Ministério Público; depois, ocuparia a pasta de ministro da Saúde quando Marcelo Caetano assumiu o cargo de primeiro-ministro. Clemente Rogeiro foi responsável pela criação do arquivo da rádio.
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