Diploma de jornalista: aniversário de morte
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Diploma de jornalista: aniversário de morte


No dia 17 de junho de 2009, ou seja, há um ano, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com os mais nobres objetivos democráticos e gastronômicos, decidiu acabar com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Lembro que, naquela noite, foi muito difícil suportar a dor da perda.

A primeira reação que muitos seres humanos têm em relação à morte – neste caso a morte do diploma – é a negação. Quando soube da notícia, não acreditei, achei que fosse pegadinha. Só podia ser, afinal quem poderia fazer, de forma séria, a comparação entre um jornalista e um cozinheiro? “Esse Gilmar Mendes é mesmo um fanfarrão”, pensei, na solidão de meu lar. Mas logo um amigo me telefonou e confirmou a morte. Não era brincadeira, não havia câmeras escondidas em meu apê.

“Esse Gilmar Mendes é mesmo um filho-da-puta”, pensei, novamente na solidão de meu lar, tão logo meu amigo desligou o telefone. Esta é a segunda reação à morte: a raiva. A exemplo de muita gente, tive vontade de ir até Brasília e invadir o STF com uma arma na mão. “Anos dedicados a uma faculdade de Jornalismo e agora, meritíssimo senhor Gilmar Mendes, descubro que meu diploma vale tanto quanto a minha vizinha do apê ao lado. Ou seja, nada. É isso que o senhor tem para me dizer?” E, depois, apertaria o gatilho.

Mas, assim como a negação, a raiva também passou e cheguei à terceira e última fase: a aceitação da morte. Claro que posso sobreviver sem o diploma. Já perdi tanta coisa nessa vida e sobrevivi. Só nos últimos tempos perdi minha mulher para um office-boy, meu emprego e a convivência diária com o Nestor. E não morri. Jornalistas estão mais acostumados a perdas do que a ganhos. E mais: jornalistas estão acostumados a sobreviver. Um ano após a morte do diploma, acho que cumpri meu luto. E aquela história de querer virar cozinheiro sem diploma e abrir um restaurante era tudo bobagem. Birra pura.



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