Coisas e Coisas
Adote um jornalista carente neste Natal
Escolha uma cartinha, dê o presente e faça um jornalista feliz.
“Estar desempregado não afeta apenas a auto-estima de um jornalista. Afeta também o seu estômago. Vocês não imaginam o que é comer todo dia o marmitex de três reais do bar do Sassá, lá na Vila Buarque. Como fica a dignidade do ser humano? Logo eu, um cara sempre acostumado ao bem-bom das coletivas de imprensa. São dois anos longe de um canapezinho de atum com damasco, de um carpaccio de salmão. Mas o que eu queria ganhar mesmo neste Natal é o meu prato favorito: filé mignon ao molho madeira com batatas prussianas. Estou até derrubando saliva no papel desta carta. Eu só peço a refeição, mas se rolar também um presentinho-surpresa eu ficaria ainda mais feliz.”
Ricardo Macedo“Eu acabei de me formar e ainda não consegui um emprego. Eu podia estar jogando videogame, podia estar assistindo àqueles videozinhos de stand-up comedy no YouTube, mas eu prefiro pedir uma oportunidade de trabalho. Eu aceito qualquer coisa, por qualquer salário. Se for o caso, trabalho até de graça. Eu sei que é difícil apostar num jovem com um currículo de uma página só e ainda assim com Arial 16. Para não dizer que não tenho experiência alguma com técnicas de apuração jornalística, eu gosto muito de monitorar as frases de gente famosa no Twitter. Lá, vocês sabem, é sempre possível encontrar declarações bombásticas e grandes furos.”
Bruno Felipe de Oliveira“A grande frustração da minha vida é nunca ter recebido um prêmio jornalístico. Aliás, tirando a medalha de menção honrosa no concurso de poesia na 5ª série, nunca ganhei nada. E um monte de amiga minha já ganhou prêmio. Prêmio faz bem para o jornalista, faz a gente se sentir mais importante. Eu perdi as contas de quantas vezes eu já reescrevi o meu discurso de agradecimento nesses últimos 15 anos. Eu gostaria muito neste Natal que alguma grande empresa, tipo uma multinacional, se sensibilizasse com a minha história e criasse um prêmio jornalístico exclusivo para mim. Tenho até um espaço reservado para o troféu na estante da minha sala, ao lado da medalha do concurso de poesia.”
Cássia Monteiro
“Fim de ano e o Retiro dos Jornalistas fica cheio. As pessoas só lembram da gente no Natal. No resto dos dias é um esquecimento só. Mas, tudo bem, vir no Natal já é alguma coisa. O que eu queria receber de presente é algo um pouco complicado, eu sei. Queria alguém para me ouvir. Hoje, é tão complicado encontrar alguém para nos ouvir. E eu tenho tanta história para contar. Era eu quem redigia as receitas de bolo para publicar no jornal quando o pessoal da censura baixava na redação. Um dia esqueci de colocar a farinha na lista dos ingredientes. Já viram bolo sem farinha? E as figuras que eu já entrevistei? Teve o cara que tentou se suicidar umas 10 vezes e fracassou em todas. E a mulher que jurava que era a reencarnação da Nossa Senhora? Dá para acreditar? Reencarnação da Nossa Senhora!”
Marcos Saldanha
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