A primeira vez a gente nunca esquece...
Coisas e Coisas

A primeira vez a gente nunca esquece...


Depois de conquistarem o sonho do “diploma de jornalismo próprio”, os focas passam a conhecer a dura realidade do mercado. Quando entram na faculdade, são o futuro do país. Quando a deixam, muitos viram um problema social, mais um numerozinho na estatística do desemprego. Conseguir o primeiro trabalho é um sofrimento para vários profissionais, com ou sem crise econômica. No meu caso, a história não foi diferente.

Com muita vontade e pouca experiência, peguei meu currículo de meia página e saí em busca da almejada vaga na grande imprensa. Fui parar em um jornal de bairro, numa pequena redação de fundo de quintal. A função era nobre: seria o responsável pela edição do horóscopo da semana. Expliquei ao meu chefe que não entendia nada de astrologia. Ele foi enfático.

– No gavetão tem todos os horóscopos do ano passado. Dá uma maquiada e manda ver.

Foi um exercício de criatividade para mim. A rotina, porém, me desanimava.

– Sabe, chefe, não que eu tenha algo contra os astros, mas eu queria fazer alguma coisa diferente.

Em um ato de extrema benevolência, ele prometeu dar uma turbinada em minha carreira.

– Deve rolar um anúncio de uma clínica de acupuntura. Taí tua grande matéria, mostrar todo o trabalho que eles fazem por lá, algo bem positivo...

Onde foi parar a tal independência editorial que aprendi na faculdade? Quando já considerava razoável a idéia de trabalhar como corretor de imóveis, recebi uma indicação de um amigo.

– Duda, é um puta empregão. Editora de perfil arrojado, em constante expansão...

Parti para uma nova aventura, desta vez em uma empresa que publicava dezenas de revistas, dos mais variados assuntos. Tudo feito por um grupo reduzido de jornalistas, a maioria de recém-formados. Escrevi para a Amigo Proctologista, Construção e Decoração, Artesanato Moderno, Fofocando, Vegetais & Cia... Escala industrial, sem contrato de trabalho, por um cacho de bananas. Não suportei por muito tempo. Peguei meu currículo – agora com uma página inteira – e novamente saí por aí. Ainda queria descobrir se a grande imprensa realmente existia ou se eu estava fadado a ser uma mera estatística.




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