Coisas e Coisas
A COLUNA DE EDUARDO PRADO COELHO
Em três dias consecutivos (de 6 a 8 de Dezembro), o tema da coluna diária de Eduardo Prado Coelho no jornal Público foi a análise do peso económico da cultura (com base em texto editado no Público de 16 de Novembro e que eu aqui ainda não trabalhei).
Trata-se de um assunto importante para quem estuda as indústrias culturais e criativas. Segundo o estudo da União Europeia sobre a economia da cultura, o produto interno bruto (PIB) da cultura em Portugal é de 1,4% (não importa aqui reflectir sobre o valor indicado por baixo).
Prado Coelho dedica, assim, o primeiro texto à relação entre economia e cultura, enquanto o segundo procura saber como se passa nos Estados Unidos e o terceiro aborda a questão dos intermitentes (os que trabalham nas indústrias criativas e têm contratos precários e à peça).
Retiro uma reflexão do primeiro texto: "muitos trabalhadores da cultura [em Portugal] nem mesmo fizeram o secundário. Isto é sintomático porque mostra uma universidade que até há poucos anos vivia enclausurada na sua torre de marfim e considerava que os professores empenhados em actividades culturais eram sobretudo diletantes. Até que se deram conta de que, como ensinavam matérias poeirentas, de uma erudição dificilmente partilhável, estavam em muitos casos em vertiginosos processos de perda de alunos. Para lutar a favor da sobrevivência, alteraram programas e estilos". E, se salienta o peso dos media de mero entretenimento, ligados ao cinema e à televisão, assim como às tecnologias de informação, conclui o primeiro texto afirmando a importância da afirmação da imagem exterior da cultura das cidades, em especial as de mais pequena dimensão.
Aqui, há a destacar, o que o articulista o não fez possivelmente por falta de espaço, a importância da produção interna das cidades em termos de cultura, que incluem festivais, exposições e encontros de cultura, associados a uma rede de comunicação e alojamentos digna, como forma de trazer emprego e receitas.
No segundo texto, Eduardo Prado Coelho começa com um ponto forte: "A ideia que se tem é a de que a cultura nos Estados Unidos está inteiramente entregue aos mecanismos do mercado, que cada um sobrevive como pode e nada interfere". Além do número de artistas (o articulista não explica a que artes estão ligados) ser de 180 mil, o dobro do existente na Europa, nos Estados Unidos há uma concepção menos elitista da arte, o que possibilita uma carreira sem necessidade do rótulo de génio. Depois, continua, a diversidade cultural é algo que existe por via legal, assim como a boa relação entre a vida cultural e as universidades, no que é um retomar de um subtema do texto anterior. Nas universidades, há boas bibliotecas, editoras, salas de dança, música e teatro, salas de concerto e rádios livres. Um quarto ponto do seu texto realça a importância do sector que não busca o negócio, pois organizações sem fins lucrativos estabelecem redes entre si. Dois últimos pontos deste texto bem construído são a preocupação com os públicos e a sua formação e a actuação do Estado. Este simultaneamente está ausente, com descentralização e autonomia, e presente, através da regulação das indústrias culturais.
Se os textos iniciais falam do peso da cultura no PIB e incluem dados sociológicos no campo da produção e recepção, o terceiro texto de Prado Coelho reflecte sobre a vida dos produtores, escrevendo sobre a intermitência, ou seja, dos que trabalham nestas áreas, que conseguem fazê-lo de "forma intensa, sem horários nem limitações, em determinadas ocasiões, mas durante certos períodos ficam sem trabalho". O autor fala de um rendimento mínimo de subsistência, conceito que entrou na agenda pública há poucos anos atrás em França, e agora retomada em Portugal através de uma carta enviada ao Presidente da República. A pretensão é que a lei inclua o estatuto de intermitência, com reflexos nomeadamente nas finanças e na segurança social.Eduardo Prado Coelho espera que haja provimento a esta carta; eu também.
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