Coisas e Coisas
O BLOGUISTA VAI DE FÉRIAS
Com mais duas semanas de férias a gozar, deixo o blogue em silêncio até cerca do dia 10 de Agosto. Para os que me procuram, consultem os blogues preferidos, indicados aqui ao lado. Mas também encontram matéria séria e divertida (segundo a minha perspectiva) nos seguintes: Ponto media, ContraFactos & Argumentos, Atrium, Blogouve-se, A minha rádio – blog, A montanha mágica, Letras com garfos II, Puta de vida… ou nem tanto, Guilhermina Suggia, O céu sobre Lisboa, Lua, Confidências de uma tocadora de piano, Dias com árvores e Cócegas na língua.
PÚBLICOS DA CULTURA
Decorreu, em 24 e 25 de Novembro de 2003, um encontro sob o nome "Públicos da cultura", promovido pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC), aqui destacado nessa altura. Pois, volvido pouco mais de meio ano, as actas do encontro estão já impressas em livro, o que só abona a favor do dinamismo daquela entidade e, em especial, da sua principal responsável, Maria de Lourdes Lima dos Santos.
Do que ouvi - e estive presente em mais de metade do encontro - gostei mais de umas comunicações do que outras. Curiosamente, agora, ao ler o volume, passei a gostar de outras comunicações em detrimento daquelas que, oralmente, me tinham impressionado mais. Isto é: há diferenças emtre a oralidade, e quem diz o quê, e, depois, o que aparece publicado. Nesta mensagem, retenho somente a comunicação de Rui Telmo Gomes, chamada
A distinção banalizada? Perfis sociais dos públicos da cultura.
Os perfis dos públicos
Rui Telmo Gomes, membro do próprio OAC, apoia-se, no seu trabalho, em estudos realizados anteriormente, baseados em inquérito, a saber: 1) festival internacional de teatro de Almada, e 2) Porto 2001. Dos factores explicativos das práticas culturais, considera o autor, incluem-se variáveis tais como categoria socioprofissional e grupo ocupacional, nível de escolaridade, idade e género. Apontando para tal sentido, os lugares de classe correspondentes seriam: recursos escolares elevados, elevada qualificação profissional, maior probabilidade de consumo cultural regular, frequência de eventos e equipamentos culturais (p. 32).
Contudo, tem vindo a ser identificadas transformações ao nível da relação entre essas variáveis e as práticas culturais. O autor apoia-se em especial nos inquéritos feitos à população francesa, que têm dado origem a estudos de elevado valor analítico. Essa transformação quer dizer diversificação, esbatendo o primado das práticas culturais legítimas (cultura cultivada) e favorecendo combinatórias entre práticas múltiplas (cultivadas e/ou lúdicas). Tal remete para o que Rui Telmo Gomes chama de
segmentação dos perfis sociais dos públicos (p. 34). Assim, define três perfis autónomos.
O primeiro é o dos
públicos cultivados, "a parcela do público em que é mais clara a articulação entre elevados recursos qualificacionais e a regularidade das práticas culturais", bem como o seu ecletismo (p. 37). O segundo perfil é o dos
públicos retraídos, a que correspondem "recursos qualificacionais relativamente reduzidos e frágeis hábitos culturais". No caso dos públicos do Porto 2001, deu-se um alargamento deste tipo de público. Finalmente, o terceiro perfil é o dos
públicos displicentes, com uma representação menos linear, isto porque "se caracteriza por elevadas qualificações, designadamente escolares, hábitos de saída convivial regulares, que se ligam a uma forte juvenilidade, e, ao mesmo tempo, pela rara frequência de eventos e equipamentos culturais". Este tipo, considera Rui Telmo Gomes, pode ser visto como quase-público ou público potencial. E, no Porto 2001, este público displicente terá também sido cativado.
Leitura: Observatório das Actividades Culturais (2004).
Públicos da cultura. Lisboa: OAC
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