Coisas e Coisas
NOVAS TECNOLOGIAS E CONSUMO DOMÉSTICO (III)
[continuação das mensagens de 7 e 9.9.2004]
Economia moral do lar [texto editado no capítulo que escrevi para a obra organizada por Carlos Leone, 2000,
Rumo ao cibermundo?]
O lar apresenta-se como unidade social, cultural e doméstica, tomando parte activa no consumo de objectos e significados dos membros que constituem os membros da família e unidade económica complexa em si, naquilo a que Silverstone, Hirsch e Morley (1996: 43) chamaram
“economia moral”. Os autores conceptualizaram um modelo para compreender a relação família/público - a que chamaram a economia moral do lar – economia de significados e atribuição de valores e economia significativa (real/psicológica) sobre objectos e tecnologias e o seu consumo (e escolhas, através de cognições, avaliações, elementos estéticos e biografia dos objectos).
Os elementos do sistema de troca são: 1) apropriação – compra, 2) objectização – recriação para exposição, 3) incorporação – novas funções, e 4) conversão – aceitação, mudança. Instituição que produz bens e serviços de valor económico tangível do mesmo modo que uma empresa, a economia moral inclui as actividades dos seus membros, no lar e no mundo do trabalho, nos momentos de lazer e nas compras feitas individualmente, seguindo um calendário próprio de consumo. Nota-se, porém, uma diferença fundamental: enquanto o produtor trabalha para a família, o consumidor produz dentro da família (Wheelock, 1996: 150).
Assim, encarado como unidade social de estrutura complexa, hoje, no lar reflectem-se as lutas e as negociações internas que envolvem pais e filhos, gerações mais velhas e mais novas e dinâmicas funcionais e estéticas de sexo masculino por oposição às do sexo feminino (Silverstone e Hirsch, 1996: 32).
Face aos equipamentos tecnológicos, há uma permanente disputa e apropriação interior no lar: a decisão de aquisição e a orientação do consumo reflectem uma relação social de poder entre os vários elementos do agregado familiar. Geralmente, a escolha parte do homem, mas as indústrias tecnológicas esforçam-se por conquistar as mulheres, que detêm um forte poder psicológico de opção nas aquisições de equipamentos. Daí, os fabricantes elaborarem uma produção contínua de mensagens e discursos dirigidos ao sexo feminino.
Afigura-se-me fundamental, pois,
apreciar o consumo doméstico da rádio, televisão, internet e outros equipamentos electrónicos, concluindo pelos significados negociados pelas audiências activas face aos programas produzidos e a ligação dos telespectadores e ouvintes a acontecimentos distantes (MacKay, 1997).
Leituras: 1) Hugh MacKay (1997). “Consuming communication technologies at home”. In Hugh MacKay (ed.)
Consumption and everyday life. Londres, Thousand Oaks e Nova Deli: Sage
2) Jane Whellock (1996). “Ordenadores personales, género y un modelo institucional para el ámbito doméstico”. In Roger Silverstone e Erich Hirsch (eds.)
Los efectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
3) Roger Silverstone e Eric Hirsch (eds.) (1996).
Los effectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
4) Roger Silverstone, Eric Hirsch e David Morley (1996). “Tecnologías de la información y de la comunicación y la economía moral de la familia”. In Roger Silverstone e Eric Hirsch (eds.)
Los effectos de la nueva comunicación. Barcelona: Bosch
5) Rogério Santos (2000). "Indústria cultural, tecnologias e consumos". In Carlos Leone (org.).
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