Coisas e Coisas
A IMPRENSA EM PORTUGAL: TRANSFORMAÇÕES E TENDÊNCIAS
UM LIVRO DE PAULO FAUSTINO
Foi ontem lançado o livro de Paulo Faustino, intitulado
A imprensa em Portugal: transformações e tendências. Trata-se de um excelente estudo sobre a imprensa no nosso país nos últimos cinco anos, mas com um pano de fundo que remete para os últimos 15 anos.
O livro, com 267 páginas de texto, está dividido em sete capítulos, abordando os seguintes temas: evolução e dinâmicas empresariais (cap. 1), evolução e tendências de consumo da imprensa (cap. 2), análise económica e financeira da imprensa (cap. 3), gestão, estratégia e marketing na imprensa (cap. 4), grupos de imprensa (cap. 5), actores do mercado (cap. 6) e tendências na imprensa (cap. 7). O texto é acompanhado de muitos quadros e gráficos.
Para mim, os capítulos com mais interesse para o conhecimento da realidade nacional são os 2º, 3º e 5º. O autor analisa quer a imprensa nacional, quer a imprensa regional [área onde mais tem investido em termos de investigação], quer a imprensa especializada.
Paulo Faustino, que prepara o doutoramento na Universidade Complutense, de Madrid, tem uma perspectiva optimista do mercado. Por um lado, acredita que já se está em recuperação do investimento publicitário, o que conduz a uma melhoria da situação dos media escritos no nosso país. Por outro lado, observa a existência de uma indústria mais bem desenvolvida do que a descrita nas análises estatísticas fornecidas pela WAN (World Association of Newspapers), que coloca Portugal no segundo pior lugar de leitura de jornais a nível da União Europeia, antes do alargamento a 25 países. Se Portugal tem um número baixo de diários, a situação inverte-se em termos de imprensa regional e local. Aliás, um dos méritos do texto agora publicado é o da apresentação de elementos referentes ao país nos últimos anos, a partir de dados que ele coligiu e que suprime algumas carências que nem o último anuário do Obercom supriu.
Trata-se - e aqui não é o local para se fazer uma análise mais detalhada - de uma das mais importantes publicações sobre a matéria e que será, com certeza, objecto de estudo nas universidades e no meio empresarial da indústria. O autor apresenta, sempre que pode, valores respeitantes ao último semestre de 2004, o que dá conta de uma grande actualidade. E quem quiser estudar a formação e peso dos grupos económicos dos media escritos encontra tudo neste trabalho de referência. É esta a minha impressão sincera depois de ter lido o seu original antes de ser impresso.
Adenda escrita às 10:30: a apresentação do livro coube a Rui Cádima (Universidade Nova de Lisboa e anterior director executivo do Obercom) e Timoteo Alvarez (Universidade Complutense de Madrid). Deste último retive algumas ideias de memória (pois não levei o meu caderninho de notas), menos centrado no livro de Paulo Faustino e mais na realidade da indústria.
Para Alvarez, antigo jornalista, professor catedrático e director de uma empresa de comunicação, os media escritos ainda têm uma longa e frutuosa vida à sua frente. Contudo, ele apontou alguns estrangulamentos, nomeadamente em Espanha. Os investimentos publicitários têm sido desviados da imprensa para a televisão regional e local, em que alguns projectos, na sua opinião, são ilegais. Além disso, nos últimos anos, os jornais têm sido obrigados a reconhecer erros na informação que prestam, caso do
New York Times ou o
El Pais (na sexta-feira da semana passada), ou são revelados segredos de poder e abuso do poder por alguns antigos jornalistas, caso do
Le Monde, em 2003.
A imprensa, considera Timoteo Alvarez, tem de continuar na senda da objectividade, da imparcialidade e da confirmação de informação a partir de duas fontes credíveis. Até porque a indústria é rentável, como no começo da sua apresentação o professor de Madrid afirmou. Ele pôs em confronto os jornais existentes na época de Franco (muitos deles estatais e dando prejuízo) e os mesmos periódicos após a transição democrática (todos eles dando lucro).
E destacou o jornal El Pais, o meio impresso paradigmático em Espanha. Iniciado há perto de 30 anos, o equilíbrio financeiro foi conseguido poucos anos depois, tendo estabilizado frequentemente em lucros, após impostos, na ordem de 18 milhões de pesetas (fazendo um câmbio à época – uma peseta equivalente a 1$50 – e convertendo para a moeda comum actual, teríamos grosseiramente, €5,4 milhões). Hoje esse valor anual baixou consideravelmente, mas continua na senda dos resultados positivos.
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