Coisas e Coisas
SOBRE BAUDRILLARD (I)
Nesta mensagem – que divido em duas –, destaco três elementos fundamentais no pensamento de Jean Baudrillard: 1) consumo e procura permanente da felicidade ou da satisfação, 2) sedução, e 3) simulacro. Adoptado pelos teóricos e práticos do
cyberpunk com o mesmo espírito que elevou McLuhan ao estatuto de padroeiro da revista
Wired, Baudrillard ficou como o filósofo do
cyberpunk e o prático do
cybercriticismo.
Ele começa por assinalar que todo o discurso sobre necessidades e desejos aponta para o domínio da felicidade, referência absoluta da sociedade de consumo (Baudrillard, 1981: 51). Ora, é preciso que a felicidade seja mensurável por objectos e signos do conforto, numa intensificação do bem-estar. Daí, falar em democracia do
standing, da televisão, do automóvel, da instalação estereofónica, num tempo em que estes bens não estavam ainda massificados (Baudrillard, 1981: 52).
Mais à frente, menciona David Riesman e a sua noção de
standard package, definida como conjunto de bens e serviços que constitui a espécie de património de base do americano médio: “Em aumento regular, indexado pelo nível de vida nacional, constitui um mínimo ideal de tipo estatístico, modelo conforme das classes médias. Ultrapassado por uns, sonhado por outros, surge como ideia em que se resume o
american way of life”.
O tema do condicionamento das necessidades (em especial, através da publicidade) tornou-se o tema favorito do discurso acerca da sociedade de consumo. A exaltação da abundância e a grande lamentação relativa às necessidades e desejos artificiais alimentam a cultura de massa.
Consumo, para Baudrillard (1981: 107), define-se do seguinte modo: 1) não se trata de uma prática funcional dos objectos e sua possessão, 2) nem de uma simples função de prestígio individual ou de grupo, 3) mas de um sistema de comunicação e de permuta, como código de signos continuamente emitidos, recebidos e inventados, como linguagem.
A procura da satisfação concorre na sua definição de simulação. O
trompe-l’oeil [pintura que dá a ilusão da realidade, aparência enganosa] – mais falso que o falso – é o segredo da aparência (Baudrillard, 1979: 84).
Não há narrativa, composição ou fábula, cenário, teatro, acção, mas apenas signos brancos, vazios, que são anti-solenidade ou representação social.
A sedução não é do domínio da estética, da pintura e da semelhança, mas da metafísica e da abolição do real. Em
De la seduction (1979), Baudrillard fala de seduzir e de ser seduzido. Claro que não se trata de um novo
Diário de um sedutor à Kierkegaard nem de uma teoria da sedução mas de uma produção teórica em si, onde a sedução é um jogo. E destaca a ética – a simplicidade, a naturalidade e a espontaneidade – face à estética – ao jogo dos signos e do artificial (Baudrillard, 1979: 155).
Mas toda a ética deve resolver-se numa estética. A passagem à estética é o movimento mais elevado da humanidade.
[continua]
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