Coisas e Coisas
SOBRE BAUDRILLARD (II)
[continuação da mensagem de 18 de Novembro]
A sedução arrasta a simulação, outro dos temas trabalhados profusamente pelo autor. A simulação parte da negação radical do signo como valor (Baudrillard, 1991: 13). Ele descreve o
supra-sumo do hiper-real e do imaginário, a Disneylandia, modelo perfeito de todos os tipos de simulacros confundidos. É antes de tudo um jogo de ilusões e de fantasmas: os piratas, a fronteira, o pato Donald ou o rato Mickey, o mundo do futuro. A Disneylandia é colocada como imaginário a fim de fazer crer que o resto é real, quando Los Angeles e a América que a rodeia já não são reais mas do domínio do hiper-real e da simulação.
Na base das análises de Baudrillard, existe um esforço para desmistificar a ideologia do consumo enquanto comportamento utilitarista de um sujeito individual que tem por objectivo o gozo e a satisfação dos seus desejos (Lipovetsky, 1989: 230). Não se consome o objecto por si próprio mas em virtude do prestígio, do estatuto, da categoria social das diferenças e dos valores estatutários. Visa-se, pois, o
standing, a categoria, a conformidade, a diferença social.
Embora sem pretender criticar que os objectos possam ser significantes sociais e signos de aspiração, Lipovetsky (1989: 232) contesta a ideia que o consumo de massa seja dirigido pelo processo de distinção e de diferenciação estatutária, identificável a uma produção de valores honoríficos e de emblemas sociais. O que se pretende através dos objectos é menos uma legitimidade e uma diferença social do que uma satisfação privada indiferente aos juízos dos outros.
Os novos bens que aparecem impõem-se pelo
standing e são absorvidos pela procura colectiva, interessada não na diferenciação social mas na autonomia em novidades, estímulos e informações.
Consome-se: 1) cada vez menos para deslumbrar o outro ou 2) ganhar consideração social, mas 3) cada vez mais por si próprio. O consumo de prestígio não se pode considerar o modelo do consumo de massa mas assenta mais nos valores privados do conforto, do prazer, da utilidade funcional.
Por seu lado, também Genosko (1999: 79) salienta a escrita da troca simbólica como um dos expoentes do trabalho de Baudrillard, o qual adquire múltiplas formas na sua escrita. Em geral, é incomensurável com qualquer sistema de valor. É anti-produtivista e envolve a destruição sumptuária de signos.
Numa linguagem repleta de aforismos, Baudrillard fala em
semiurgia – produção de signos, sociedade de simulações liderada pela hiper-realidade, domínio e fascínio de imagens, espectáculos e simulações. Pela semiurgia, eliminam-se críticas e esgotam-se os significados. A implosão não irradia mas absorve e anuncia a catástrofe do colapso dos novos meios para com a forma de massa. Ou, na linguagem revista por Genosko (1999: 88), os signos monetários são frios para Baudrillard: sem afectos, comutáveis, ligados a redes do sistema estrutural, e desligados dos referentes reais parassistémicos.
Leituras: Baudrillard, Jean (1981).
A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70
Baudrillard, Jean (1979).
De la seduction. Paris: Denoël
Baudrillard, Jean (1991).
Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’Água
Genosko, Gary (1999).
McLuhan and Baudrillard. The masters of implosion. Londres e Nova Iorque: Routledge
Lipovetsky, Gilles (1989).
O império do efémero. Lisboa: D. Quixote
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