Coisas e Coisas
O CIBERJORNALISMO SEGUNDO RAMÓN SALAVERRÍA
No congresso realizado a semana passada em Pamplona, uma das comunicações que mais me impressionou foi a de Ramón Salaverría sobre ciberjornalismo e as catástrofes; no caso presente os atentados nos Estados Unidos (11S) e em Espanha (11M).
Nestes acontecimentos, ele detecta elementos comuns, por uma razão: foram acontecimentos excepcionais que pressupunham tratamento jornalístico excepcional. Melhor dizendo, onde se poderia mostrar o melhor, mas também o pior, num momento em que a internet ganha espaço em termos de informação. Mas todos os media, incluindo a internet, não estavam preparados para a crise. Por um lado, o grande tráfego de informação, com os media a noticiarem de modo muito rápido (e com pouca acurácia). Por outro lado, a grande concorrência [e competência] entre os diferentes meios (televisão, rádio) com o novo meio (internet).
Salaverría é professor na universidade de Navarra, onde dirige o laboratório multimedia. Ele lidera a investigação do impacto da internet sobre a imprensa tradicional (em Espanha e na Europa). Tem um livro (
Manual de redacción ciberperiodística), de autoria repartida com Javier Díaz, e editará em breve outro livro sobre ciberjornalismo [na imagem, vêem-se Ramón Salaverría à esquerda e José Luis Orihuela à direita].
Contributos para uma história do ciberjornalismo
Passaram apenas dez anos desde que o
New York Times (NYT), por exemplo, tem uma edição electrónica, mas detectam-se fortes alterações a nível da arquitectura e a nível dos conteúdos. Foi a 11 de Novembro de 1994 – precisamente dez anos antes do dia da comunicação de Salaverría – que o NYT anunciava a edição informática do jornal (com esta mesma designação). Nessa altura, também, em congresso ocorrido em Navarra, anunciava-se que edições diárias do
El Periodico e do
El Mundo podiam ser lidas no computador (também usando esta expressão).
Outras redes surgiriam. Assim, a 10 de Janeiro de 1999, um jornal electrónico (ou já se chamaria digital?) anunciava que “we have started weekly posts" – era o começo das mensagens e da interactividade. Mais perto de nós, continuava Salaverría, o
El Pais (2003) tornava-se um jornal multimedia e hipertextual.
Ora, que grau de maturidade apresentam hoje os ciberjornais relativamente aos jornais de papel? Em termos de semelhanças, e aplicando a dolorosa experiência vivida com os acontecimentos de 11M, Salaverría encontra: 1) tempo (o directo, embora o jornal de papel se atrase um dia na cobertura dos factos), 2) surpresa (nenhum jornalista e meio de comunicação esperava que acontecesse o que aconteceu), 3) impacto. Já em termos de diferenças, o professor de Navarra encontra as seguintes: 1) lugar, 2) recursos, 3) experiência.
Debilidades e forças da imprensa digital
Salaverría enunciou três debilidades: 1) impressão tecnológica, 2) escassa serenidade jornalística, 3) falta de identidade própria. Para ele, a internet tem como condição principal o ser a primeira a dar a informação, mas não existem mecanismos para dar a informação correcta e com rigor. Mas, com a presença mais frequente do ciberjornalismo, aprenderam-se algumas lições: 1) preparação tecnológica, 2) a internet conta, 3) a internet é multimedia (não é informação textual mas oferece outros conteúdos). Isto é, a informação não está apenas nos media tradicionais, mas alarga-se a outras fontes e canais, com as redes a oferecerem conteúdos alternativos. Crescem as fontes primárias e de observação directa, como os blogues, os fóruns, as publicações colectivas.
Salaverría acabou bem a sua comunicação, ao reflectir o impacto que o 11M teve no ciberjornalismo do seu país. Nesse dia de infâmia, os 60 profissionais do El Mundo.es (jornal digital do
El Mundo) saíram da redacção, onde habitualmente estão – a recolher e tratar informação –, para a rua para procurarem informação. As crónicas e as reportagens publicaram-se primeiro no jornal digital e foram incorporadas na edição do jornal em papel no dia seguinte.
Era a primeira vez que os jornalistas digitais cobriam em directo a informação, editavam em formato digital e, mais tarde, publicavam no meio clássico de informação.
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