Coisas e Coisas
TEMAS QUE EU GOSTO
1) Manga - no
Público de ontem, a secção "Cultura" dedicou duas páginas ao fenómeno
manga, a banda desenhada japonesa, tema que eu já aqui tenho trabalhado. Escrito pela jornalista Vanessa Rato, os pontos de partida foram a abertura de mais uma loja especializada em manga, a Kingpin of Comics, e um pequeno boom nas vendas em 2004. Este último facto deu-se devido a "duas das maiores editoras norte-americanas terem conseguido desbloquear os seus direitos de exportação, passando a disponibilizar para a Europa muitas novas obras".
Lê-se manga em inglês, mas também em francês e espanhol. A jornalista aponta lojas onde se podem adquirir revistas de BD nipónica nas duas primeiras línguas mas não em espanhol. E faz uma radiografia sucinta do leitor tipo da manga: nível etário maioritário entre 16 e 25 anos (os abaixo de 16 não compram, devido ao custo de cada revista, que ronda os €12), público masculino mas também feminino (há produção orientada para este segundo público), simultaneamente fãs da internet, quase apenas fiéis a este tipo de BD, formação média ou superior para os consumidores acima dos 25 anos.
A manga cobre géneros diferentes: romance, pornografia, ficção científica, terror e comédia de costumes. Mas há ainda histórias de amor escolar e com heroínas com poderes mágicos (dirigidos para as raparigas) e histórias de aventura, policiais, desporto e ficção científica (para os rapazes). Sem excluir mangas para adultos, quer homens quer mulheres.
2) Livrarias - ainda no
Público, mas de anteontem, o destaque foi para as livrarias. E, apesar de haver quase sempre más notícias a ler nos jornais, este destaque trouxe boas novas. A primeira é que a Fnac e a Bertrand juntas venderam 5,5 milhões de livros em 2004! Aquela 3,5 milhões e a segunda 2 milhões. No ano que terminou há pouco, a Fnac facturou €40 milhões (mais 10% que em 2003) e a Bertrand € 30 milhões (subida de 16% face a 2003). Em termos de lojas, a Fnac tem sete lojas (de grande dimensão) e a Bertrand 39 por todo o país.
No artigo, assinado por Joana Gorjão Henriques, considera-se que o conceito de livraria é comum às duas cadeias: "há uma aposta no espaço, nas zonas de lazer, nos bares, na programação cultural, nos cartões de cliente, nos expositores, na escolha de livros em destaque". Uma explicação para o surto de lojas mais amplas coincidiu com a explosão de centros comerciais, o que se aplica mais à Fnac que à Bertrand - algumas lojas desta cadeia situam-se na rua, casos da Av. de Roma e do Chiado, ambas em Lisboa. A Fnac funciona como loja âncora, por exemplo nos Armazéns do Chiado e mesmo no Colombo.
O
Público traça ainda o perfil de algumas das livrarias tradicionais - mas especializadas e de crescimento possível - de Lisboa e Porto. Inclui a Buchholz, que atravessa um período menos bom, mas não inclui a Almedina (e eu creio que a loja do Saldanha será um espaço de forte crescimento num centro comercial bonito, onde não falta um pianista a tornar mais agradável uma visita aquele sítio).
3) Fotografia - saíu na revista do
El Pais de ontem, com o título
A fotógrafa mais sedutora, um artigo sobre a fotógrafa Lee Miller, escrito por Lourdes Gómez e com um auto-retrato daquela (1932).
Lee Miller, feminista, musa dos surrealistas, modelo e fotógrafa, nasceu no estado de Nova Iorque em 1907 e faleceu em Londres setenta anos depois. O seu legado artístico foram cerca de 40 mil negativos, depois recuperados e reunidos pelo seu filho Anthony Penrose num fundo, os Arquivos Lee Miller.
Agora, a partir de 3 de Fevereiro próximo (e até 30 de Maio), serão mostradas 120 imagens a preto e branco daquela fotógrafa, na National Portrait Gallery, em Londres. A exposição envolve cinco grandes áreas: 1) retratos de estúdio de celebridades, 2) retratos informais de artistas, 3) retratos íntimos de amigos, 4) mulheres colaborando em tarefas de guerra na Inglaterra, e 5) vítimas civis da mesma II Guerra Mundial.
Fotografada por grandes profissionais das revistas da moda e por mestres como Picasso, Miller também fotografou Picasso, outros artistas como Max Ernst e Joan Miró e escritores como T. S. Elliot e Dylan Thomas. A relação amorosa que manteve com Man Ray, o artista dos
ready-made, foi tumultuosa, mas a amizade manteve-se para além dessa relação. Mais tarde, casaria com Roland Penrose, artista inglês e coleccionador de arte contemporânea.
O artigo agora editado no
El Pais aventa a hipótese de Lee Miller ter sido a primeira fotógrafa a entrar com os aliados em Paris, a 25 de Agosto de 1944. Ali fez imagens de amigos como Picasso e Jean Cocteau, bem como de Fred Astaire actuando para as tropas americanas e outras cenas dos primeiros dias da libertação (para obter mais informações da artista, apontar para o sítio Lee Miller Archives).
4) Blogues (
ou o meu obrigado a Vanda Ferreira) - a revista
Meios, da Associação Portuguesa de Imprensa, edição de Novembro/Dezembro de 2004, dedica as suas páginas centrais aos blogues ou diários de bordo, como também lhes chama.
Vanda Ferreira seguiu uma proposta minha, a da definição de blogues por tipo de especialização: 1)
repetidores ou
referenciadores, que se dedicam a recolher e reproduzir artigos, documentos e fazer links considerados relevantes para o blogueiro, 2)
sinaleiros, que procuram e assinalam matérias determinadas, com destaque para as opiniões que apareçam na sua sequência, com mais interligações e interactividade, e 3)
produtores, resultantes de blogueiros que os criam e alimentam com reflexões e outros elementos próprios.
Parti ainda da distinção dos blogueiros como
comunidade interpretativa e imaginária, a partir de conceitos desenvolvidos por Barbie Zelizer e Benedict Andersen. E, nesse trabalho de Vanda Ferreira, comparei os blogues com os pioneiros da rádio, nos idos anos de 1922-1923, fomentadores de comunidades virtuais em todo o planeta, graças a pequenos emissores que eles próprios montavam.
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