Coisas e Coisas
VEMO-NOS NO MESSENGER
À saída da escola secundária, seja em Portugal, em Espanha, Estados Unidos ou Coreia, a frase dos adolescentes é sempre a mesma:
vemo-nos logo no messenger.
Escreve Juan Cueto, na revista de domingo do
El Pais, que os pais ou os avós desses adolescentes devem saber descodificar a expressão, pois não se trata de uma mega-discoteca com músicas hip-hop ou qualquer coisa do género. O que o jovem quer é regressar nas calmas a casa e fechar-se no seu quarto, onde faz duas coisas: ouvir - se já não estava - o leitor de MP3 e ligar o computador à rede,
para mandar mensagens instantâneas e gratuitas pelo MSN, Yahoo! ou Wanadoo para os amigos até à hora do jantar ou de se ir deitar.
Contas por alto, estimam-se mais de cem milhões de fanáticos globais do
messenger entre os 12 e os 25 anos. Todos os fins de tarde, ligam as máquinas, incluindo as câmaras, e trocam textos, imagens e músicas. Cueto invoca até McLuhan e fala de três galáxias suas - Gutenberg, Marconi e Von Neuman (acrescentando esta e esquecendo-se da audiotáctil, era inicial no texto do canadiano). Apesar de conectado à música, impera o silêncio no quarto do jovem. Já não se produzem tantos decibeis do tempo do rock pesado ou do rap, do género de a casa abanar tanto que
até-parece-que-vai-cair. Diz ele; eu acho que, quando muito, houve uma atenuação nesse comportamento colectivo das tribos adolescentes.
Ao mesmo tempo, observa-se uma mudança quase de paradigma, escreve Juan Cueto. O uso intensivo do
messenger (mas também dos blogues e do correio electrónico) destruiu a ideia de que a escrita era uma actividade apenas reservada à elite literária. Apesar de também eu me considerar integrado na família dos
screen-agers, pois a minha aprendizagem vem do tempo do ecrã da televisão, o certo é que a última geração desta família não tem o prazer da leitura nem aprendeu a escrever muito bem. Aos erros de ortografia juntam-se um vocabulário inventado e uma sintaxe que faz lembrar os experimentalismos vanguardistas de Joyce ou de Burroughs, a escrita automática dos surrealistas ou a intertextualidade multimedia dos anos 1970, conclui Cueto.
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