Coisas e Coisas
O ENSINO E A INVESTIGAÇÃO DO JORNALISMO EM PORTUGAL (I)[texto lido na Universidade do Porto, a 24 de Maio de 2005, nas
1ª Jornadas da Licenciatura em Jornalismo e Ciências da Comunicação da U. Porto (jLJCC'05)]
O que me proponho nesta apresentação é reflectir em alguns elementos, tais como: 1) matriz de alguns cursos, 2) importância dos mestrados como espaço para investigação e produção científica, 3) papel das associações e realização de congressos enquanto meios de partilha de conhecimentos, 4) importância das revistas, de colecções de livros e de sítios na internet, 5) apontar áreas e temas de investigação já desenvolvidos, a desenvolver ou que carecem de arranque.
1) O ensino da matéria de jornalismo começou em finais da década de 1970, primeiro na Universidade Nova de Lisboa, a seguir no ISCSP (antes de 1974, houve um curso de comunicação social numa escola privada mas a mudança de regime acabou com a proposta, existindo muito pouca informação sobre ela).
Cada escola tinha uma filosofia ou carta de princípios. O curso da Nova ficou marcado pela influência das semióticas e linguísticas, ainda hoje detectável, enquanto o do ISCSP abraçou uma componente sociológica associada com a visão antropológica matriz de origem da escola. Os cursos das outras universidades chamadas novas, como o Minho e a Beira Interior, deram espaço a outros saberes e influências: a economia naquela, as tecnologias digitais nesta. Chamo a atenção para quatro outras escolas: a Católica, onde trabalho, com uma preocupação de ordem cultural, a de Aveiro e a do Porto, com uma combinação entre comunicação e tecnologias digitais que se afastam da da Beira Interior, pois esta, apesar do apelo às tecnologias, acaba por ter uma sólida componente sociológica e filosófica, a de Coimbra com uma orientação decisiva para o jornalismo. Esta última traz a pureza da designação:
Jornalismo, numa mistura que se pretende equilibrada entre meios tradicionais e novos media. De fora ficam muitas; peço desculpa por não as elencar.
Se olhássemos as universidades numa estrita perspectiva empresarial faríamos uma análise SWOT, com os seus pontos fortes e pontos fracos. Não quero estender-me por aí, mas pretendo apenas chamar a atenção para a necessidade de se dosear um saber teórico, alicerçado em décadas de investigação, mormente nos Estados Unidos, e uma aplicação prática. Sabemos – e a comissão de avaliação de cursos da área produzirá um próximo relatório sobre as universidades visitadas – que há cursos mais práticos e outros mais teóricos. Tal imbrica também na próxima aplicação do processo de Bolonha, onde se pretende que, no primeiro ciclo (licenciatura), os cursos forneçam ferramentas traduzíveis numa maior empregabilidade, ficando para os dois outros ciclos uma formação mais teórica e de investigação. Eu, confesso, fui sempre adepto de uma teorização mais forte, talvez porque venho de uma outra área das ciências sociais e humanas onde se não colocava a imediatez da reportagem ou da feitura do
lead para a edição de hoje.
[continua]
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