Um conto de Natal
Coisas e Coisas

Um conto de Natal




A menina desceu ansiosa as escadas para a parte baixa da casa. Se sua suspeita se confirmasse, seria a primeira a dizer na escola que ela podia provar que Papai Noel existe. Deixaria todas as amiguinhas de queixo caído. Alguns amiguinhos também. Eles teriam que parar, definitivamente, com aquela história de que eram os pais que compravam e davam os presentes de Natal.

Claro que nem todos os presentes que ela ganhava eram do Papai Noel. Alguns deles, sempre os que eram menos legais, vinham dos pais e dos avós. A madrinha também lembrava a data. Aliás, era essa a única data em que a madrinha lembrava-se dela. Seus presentes pareciam sempre "do ano passado". Ou seja, a madrinha sempre dava algo que a menina tinha tido vontade de ganhar antes. Quando era mais nova. A madrinha sempre achava que a menina tinha a idade do ano anterior. E quando dava roupas, obviamente elas precisavam ser trocadas. Coisas de madrinha!

Desceu pé ante pé a escada. Tomava sustos com os rangidos. Sua respiração ficava mais e mais ofegante. Era obrigada a segurar-se no vão da escada. Não porque não conseguisse descer a escada sozinha, mas sim por suas pernas trêmulas. Suas pernas finas e delicadas que pareciam não conseguir suportar o tamanho da ansiedade que sentia.

Depois que descobrira que o coelhinho da Páscoa não existia, ela começou a suspeitar fortemente do Papai Noel. Se bem que a história de um coelho colocar ovos de chocolate nunca tinha sido muito convincente. E o pior, sem nenhum ajudante. Sem renas que o auxiliassem a fazer as entregas. No máximo uma coelhinha. E mesmo assim eles eram pequenos. E bichos.

Papai Noel não. Ele era um homem grande. Contava com todos aqueles aparatos mágicos. Toda aquela banda que tocava enquanto sua fábrica funcionava a todo vapor. E ele também contava com a ajuda dos correios que fazia o trabalho de recolher os pedidos. E, às vezes, também auxiliavam na entrega dos presentes. Ela soube que algumas crianças tinham recebido seus presentes pelos correios. Talvez tenham tido algum problema na hora da entrega. Talvez estivessem viajando e Papai Noel não conseguiu entrar pela janela. Talvez não tivessem janelas na casa. E nem chaminé. Poucas pessoas tem chaminé hoje em dia.

Enfim, Papai Noel existia. Isso era claro. E foi com esse pensamento que ela adentrou a sala da sua casa. Esgueirando-se por trás do sofá. Contornando o pinheirinho. Quase pisando sobre o presente da madrinha. Tudo isso na expectativa de encontrar ali, na sua sala, o bom velhinho. Aquela criatura mágica. Seu maior ídolo. A salvação da sua infância.

Imaginem sua surpresa quando ela avistou alguém perto da TV. Forçou os olhos para ter certeza de que não eram seu pai ou sua mãe. Seu irmão menor, com certeza não era. Era um homem alto e forte, ela conseguia ver isso através da silhueta no escuro. Não era gordo como ela imaginara. E não consegui ver sua roupa vermelha. O escuro ou a emoção a impediam de distinguir com detalhes tudo o que via. Sua alma transbordava felicidade. Seu coração batia descompassado de tanto júbilo.

E foi nesse momento, em que quase não cabia em si, que ela precisou apoiar-se em algo para manter-se em pé. E foi nesse momento também que ela não viu que no galho do pinheiro que ela tentava segurar, havia uma estrela de cristal que servia de enfeite. E foi nesse momento ainda, que pareceu demorar séculos, que a estrela explodiu contra o chão, chamando a atenção do homem que segurava a TV.

Ele, vestido de preto e carregando um saco onde já estavam guardadas várias jóias, agiu por impulso por causa do susto. Simplesmente virou-se e disparou o revólver que trazia consigo. Um único tiro. Disparado quase como uma defesa involuntária. Tristemente preciso e quase mágico. Atingiu a menina no peito. - Merda! - falou baixo o papai noel. - Maria! - gritou a mãe da menina levantado-se rapidamente da cama.

Enquanto a mãe descia as escadas correndo e o papai noel atravessa a cozinha também correndo, o relógio da igreja marcava meia-noite. Era finalmente o dia de Natal. A mãe encontra a filha caída perto do pinheiro. Mesmo chorando, a mãe ainda consegue ouvir a menina dizer, um pouco antes de fechar os olhos: - Mamãe, mamãe... Papai Noel existe!!!

E os sinos da catedral soam com força, anunciando o nascimento do menino Jesus. Aquele que veio ao mundo para nos livrar dos pecados. Amém!





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